Depois dos seguidos atentados terroristas promovidos pelo Talibã no Paquistão, foi a vez de o Irã ser o alvo do extremismo. Ontem e hoje dois ataques causaram mortes e uma boa dose de estranhamento. Por que o país de Ahmadinejad – cujos discursos e ações definitivamente não se contrapõem ao terrorismo – foi a vítima do momento?
É difícil entender a lógica da situação, mas quando se analisa o quadro mais amplo é possível elencar algumas possibilidades. Antes de apresentá-las, porém, sinto-me na obrigação de expor que sou completamente avesso a teorias da conspiração. Não creio em nenhuma delas e acho que a humanidade perdeu e assassinou demais em nome desse tipo de bobagem.
Dito isso, vamos aos fatos: em menos de duas semanas ocorrem as eleições no Irã. Na dicotômica luta pelo poder na República Islâmica, dois grandes grupos repletos de heterogeneidade podem ser listados: os conservadores – cujo maior expoente é o próprio presidente Ahmadinejad em busca da reeleição – e os moderados – Mirhossein Mousavi é seu principal candidato.
A população rural está em grande parte com Ahmadinejad, enquanto a urbana, com Mousavi. Este último declarou hoje que, se eleito, pretende adotar uma política conciliatória com o ocidente, tendo inclusive chamado o atual presidente iraniano de extremista.
“Não vamos abandonar nosso direito à tecnologia nuclear, mas estamos prontos a dar garantias de que ele (o programa nuclear) não tem como objetivo a fabricação de armamento”, disse à agência Reuters.
Hoje, um comitê de campanha de Ahmadinejad foi atacado por atiradores. Uma criança e dois adultos foram feridos. Na quinta-feira, uma explosão causada por um homem-bomba numa mesquita xiita deixou 19 mortos. Um grupo terrorista sunita assumiu a autoria do atentado.
Antes disso, porém, oficiais iranianos se apressaram em afirmar que os EUA estavam envolvidos no ataque – fato rapidamente e obviamente negado pelo governo americano. Oficiais esses aliados de Ahmadinejad.
Não sei se o próprio Ahmadinejad – em queda nas pesquisas e rejeitado pela intelectualidade iraniana – poderia se beneficiar dos dois atentados de modo a tornar a disputa eleitoral ainda mais polarizada e reafirmar seu potencial como o melhor contraponto aos Estados Unidos, a Israel e ao ocidente.
Por outro lado, o ataque à mesquita xiita pode ser uma prévia do grande conflito silencioso que se forma no mundo muçulmano: a batalha entre sunitas e xiitas.
Como escrevi anteriormente (leia aqui), uma provável ação militar israelense para deter o avanço nuclear iraniano colocaria em rota de colisão os países xiitas – capitaneados pelo próprio Irã – e os sunitas Arábia Saudita, Egito, Jordânia e Marrocos.
Talvez este ataque à mesquita tenha qualquer conexão com esta grande disputa militar. Mas, por enquanto, tudo não passa de mera especulação.
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