Num mundo cada vez mais conectado, a revolução bolivariana de Chávez ganhou uma batalha importante. O presidente venezuelano poderá concorrer a reeleições indefinidas. O problema é que os mercados não gostaram nem um pouco desta notícia. E prometem dificultar ainda mais as ambições socialistas, sob a perspectiva econômica.
Na prática, a situação é bem simples. A Venezuela é a maior exportadora de petróleo do continente americano. O óleo cru responde por 93% das vendas internacionais do país. O problema é que o próprio Chávez criou uma sinuca em suas estratégias políticas.
Seus discursos inflamados e o alinhamento com parceiros como Irã e Síria acabaram por deixar os investidores internacionais – não tem jeito, todo o mundo depende deles – receosos de colocar dinheiro ou fazer negócios com o país. Soma-se a isso a desvalorização de 74% do valor do óleo cru desde julho do ano passado. Hoje, a Venezuela tem a maior taxa de inflação – cerca de 30% ao ano – dos países latino-americanos.
O quadro econômico mostra grande dificuldade de Caracas saldar seus 46 bilhões de dólares
Mas, como reduzir as análises ao campo econômico é ingenuidade, é preciso apresentar outros números. A vitória apertada de Chávez (54,4% a 45,6%) mostra uma sociedade polarizada ideologicamente em termos que, curiosamente, lembram o maniqueísmo da era Bush. Entretanto, a aprovação do “sim” ratifica os ganhos sociais dos últimos dez anos.
Os partidários do governo lembram a democratização ao acesso à saúde e educação empreendida por Chávez. Segundo dados do Ministério da Informação, houve uma redução substancial na taxa que mede a pobreza extrema: ela era de 42%, em 1998, e passou a somente 9,5%, no ano passado.
A Venezuela de Chávez investe cerca de 4,2% do PIB em saúde (no Brasil, a média não passa de 3,5% por ano) e o governo se comprometeu a aumentar esta taxa ainda mais. Fora isso, há a bem-sucedida campanha de erradicar o analfabetismo.
A BBC ouviu os dois lados da moeda. Os chavistas lembraram todos os benefícios do governo já citados. A oposição declarou que, segundo dados da ONG Transparência Internacional, a Venezuela é hoje o país mais corrupto da América Latina – atrás somente do Haiti.
Direcionismo
O jornalista Venezuelano Francisco Toro critica a própria campanha que mobilizou o país. Segundo escreveu em coluna publicada no jornal inglês The Guardian, Chávez transformou o Estado venezuelano num apêndice da campanha do “sim”.
“A propaganda do ‘sim’ decora os espaços públicos, inclusive escolas, hospitais, agências governamentais, pontos de coleta de impostos, O Instituto Nacional de Treinamento para o Trabalho e até mesmo os assentos do Congresso Nacional. Quase todos os sites do governo exibem o banner do ‘sim’”, diz.
Um comentário:
"Foi sem querer querendo"
Parecia indução,tinha gosto de sociais conquistas, mas era democracia.
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