A campanha eleitoral israelense começou fria, mas, como a própria região, esquentou de maneira rápida e dramática. A grande novidade é a ascensão do nacionalista Avigdor Lieberman e de seu partido, o Israel Beitenu (Israel A Nossa Casa). Seja lá quem for o eleito – muito provavelmente Benjamin Netanyahu, do Likud – terá de formar um governo de coalizão. Como de costume, a sociedade israelense está dividida. Mas, dessa vez, há algumas importantes mensagens que podem ajudar a entender os dilemas pelos quais o país está passando.
Ainda sob o impacto prático-midiático da incursão em Gaza, boa parte dos israelenses optou pelo o que a imprensa internacional vem chamando de “o linha-dura”, Bibi. Olhando de fora do país, boa parte da opinião pública mundial tem interpretado a possível vitória do candidato do Likud como um voto de confiança a alguém que simplesmente não pretende negociar com o Hamas, não quer dividir Jerusalém e tem sérias restrições à criação de um Estado palestino. Pode ser, mas não é só isso.
De certa maneira, o voto no Likud pode ter origem comum ao crescimento de Lieberman, que pode ultrapassar o Partido Trabalhista de Ehud Barak e relegar a histórica legenda de centro-esquerda a uma vexatória quarta posição. Pode ser também a confirmação à doutrina fundadora do Kadima, em novembro de 2005. Mais além, pode ser um voto nostálgico
No final das contas, os israelenses estão dispostos a eleger candidatos que proponham mudanças práticas. Não somente em relação às negociações com os palestinos, mas também quanto a reformas econômicas e sociais.
Sobre o conflito árabe-israelense – e o palestino especificamente – Bibi e Lieberman têm um ponto em comum e que se destaca nesta campanha. Cada um a sua maneira defende soluções radicais, definitivas. No caso do Likud, a proposta já é conhecida há bastante tempo. Um Estado palestino só será viável quando ele não representar qualquer ameaça a Israel.
Para Lieberman, a solução envolve um plano polêmico e bastante trabalhoso. Ele propõe abertamente a revisão das fronteiras de Israel e do território em boa parte controlado pela Autoridade Palestina; da Cisjordânia, mais especificamente. Seu ponto de vista é que cidades do norte de Israel majoritariamente habitadas por população árabe deverão ser englobadas pelo futuro Estado palestino. Em troca, assentamentos judeus construídos dentro do atual território palestino passariam a fazer parte de Israel.
A mensagem das urnas é que os israelenses estão cansados de discursos ideológicos que muitas vezes não levam a lugar nenhum. Boa parte da opinião pública também acredita que medidas práticas devem ser tomadas o quanto antes, principalmente após a posse de Barack Obama. Foi assim que Sharon agiu em 2005 ao se retirar de Gaza. Unilateralmente e justamente sob o argumento da impossibilidade de manter 1,5 milhão de árabes sob controle israelense.
E este é um ponto importante, já que Israel vive o dilema da manutenção de seu caráter judaico. Em longo prazo, os atuais 1,5 milhão de árabes-israelenses poderão mudar a situação na prática – a taxa de natalidade entre os árabes é superior a dos judeus.
Por mais polêmico que seja o plano de Lieberman, ele é o único que até o momento apresenta uma proposta clara – e altamente criticável – de abordar esse impasse que é intrínseco à formação de Israel.
E por isso ele já é o maior vencedor dessas eleições. Mesmo não sendo eleito primeiro-ministro. Parece complicado. E é mesmo.
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