A divulgação do relatório anual do Departamento de Estado norte-americano sobre os direitos humanos no mundo causou uma grande crise diplomática. As conclusões do estudo marcam o fim da era de aprovação do governo Obama até mesmo por países resistentes ao diálogo com os EUA. Mas, por mais óbvio que seja o descontentamento dos criticados, Washington decidiu seguir uma linha coerente que justifica a própria mudança proposta pelo novo governo dos Estados Unidos.
É desta maneira que pensa Elisa Massimino, diretora executiva da ONG Human Rights First.
“A administração Obama foi rápida ao identificar um dos principais motivos pelos quais a promoção dos direitos humanos no mundo é tão importante: o dano causado à credibilidade internacional do país nos últimos oito anos. A prioridade é reafirmar ao mundo que os EUA apoiam os princípios básicos dos direitos humanos para criar a expectativa de que outros governos façam o mesmo”, diz.
Mas este raciocínio não serviu para acalmar os ânimos de Rússia, China, Venezuela, Egito, Bolívia, Zimbábue, Egito, Sudão e outros que são citados como exemplos negativos de preservação dos direitos humanos. Por parte desses países, muita reclamação e acusação de que o relatório tem objetivos políticos. Pode ser, aliás, é bem provável que seja isso mesmo. Mas e daí?
Acho interessante mencionar algumas das conclusões do documento em relação a países que adotam cada vez mais posições antiamericanas.
A Rússia foi criticada pelos esforços de seu governo de se consolidar no poder através de uma legislação complacente e eleições injustas. A China, além de ter sido acusada de desrespeitar os direitos humanos, também foi mencionada por aprofundar a perseguição a minorias étnicas e dissidentes.
Já em relação à América do Sul, a Venezuela foi citada por conta do Judiciário comprometido politicamente e a perseguição a meios de comunicação que discordam de Chávez. A Bolívia entrou no estudo em situação menos grave; foi lembrada apenas por abusos das forças de segurança, condições ruins das penitenciárias, prisões ilegais e ameaças à imprensa e aos direitos legais.
Este é um estudo que vai determinar a política externa norte-americana. A grita generalizada qualifica o relatório de direcionista, odioso e de usar julgamentos ambíguos dependendo das relações entre os EUA e os países examinados.
A China foi mais longe e afirmou que o objetivo é usar o documento para interferir nos assuntos domésticos alheios. No fundo, ninguém gosta de levar chamada de fora, mas o fato é que os Estados Unidos têm o direito de produzirem estudos sobre o que quiserem. E os direitos humanos parecem ser um tema interessante a ser abordado por um governo que gerou tanta esperança de mudança.
Mas governos não são instituições beneficentes. O altruísmo vale apenas para os pobres mortais e, em tempos de crise, para cada vez menos. Naturalmente, é preciso enxergar os objetivos econômicos por trás de uma pesquisa cara e trabalhosa como esta.
“O cálculo é simples: violações de direitos humanos contribuem para instabilidade, insegurança e falta de transparência que exacerbam crises e ameaçam os interesses americanos no exterior. Enquanto a proteção dos direitos – incluindo os trabalhistas, dos sistemas legais e de responsabilidade oficial – ajuda no avanço econômico e na segurança internacional”, diz Massimino.
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