É muito raro que a Islândia seja assunto da imprensa internacional. Não apenas por conta de sua reduzidíssima população – cerca de 320 mil habitantes apenas. O país não se incomoda de ser esquecido, muito pelo contrário. Historicamente, o isolamento da Islândia das questões internacionais é quase uma tradição. A situação mudou, entretanto, a partir do momento em que, desde o final do ano passado, o país entrou em colapso por conta da crise internacional.
Os olhos do mundo se voltaram para a pequena ilha ao norte da Europa. Como num microcosmo, o caso islandês se tornou um laboratório para o que pode ocorrer num futuro não muito distante em diversos outros Estados onde a crise financeira internacional irá se instalar.
No último domingo, um novo governo de coalizão entre o partido social democrata e o verde assumiu o poder. A nova primeira-ministra, (e repleta de consoantes) Johanna Sigurdardottir, terá a dura tarefa de conduzir o país até que novas eleições sejam realizadas, em 25 de abril.
A situação é gravíssima. Conhecida por sua qualidade de vida, a Islândia perdeu em pouco tempo boa parte de seus índices de primeiro mundo. Em questão de semanas, com a derrocada do mercado de crédito global, a moeda nacional, a coroa islandesa, sofreu uma desvalorização de 23% frente ao euro e a taxa de desemprego subiu para 10%.
Como num efeito dominó, os bancos do país ficaram impossibilitados de saldar suas dívidas, muitas contraídas em moeda estrangeira.
Quando os correntistas correram para sacar dinheiro, o sistema bancário tinha poucas reservas para cobrir as retiradas. Por conta disso, todos os três bancos faliram e acabaram nacionalizados.
Como escreveu o colunista Thomas Friedman em sua coluna no The New York Times, este é “o principal problema da globalização: estamos todos conectados, mas não há ninguém no comando”.
Novela mexicana
No caso específico da Islândia há uma articulação dramática, digna de um roteiro de filme “b” envolvendo segredos não revelados e até doenças misteriosas capazes de abalar a cúpula do governo anterior.
Além da economia em estado de caos completo, os líderes da coalizão anterior, o ex-primeiro ministro e o ministro das relações exteriores se retiraram da política. Tudo porque ambos descobriram que têm câncer.
Oficialmente, descobriu-se também que mais de 120 governos municipais e instituições do Reino Unido tinham altas quantias de dinheiro depositadas em contas bloqueadas dos bancos islandeses. Somente a universidade de Cambridge tinha cerca de 20 milhões de dólares. Quinze forças policiais britânicas estavam com quase 170 milhões de dólares congelados no país.
Ao mesmo tempo, outra informação bastante contraditória foi revelada por Hannes H. Gissurarson, membro do conselho do Banco Central da Islândia e professor de política da Universidade da Islândia. Em artigo publicado no The Wall Street Journal, ele faz uma grave denúncia contra o governo inglês.
Segundo ele, outra razão que explica o impacto da crise econômica no país é o fato de o primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, ter usado uma lei antiterrorista para fechar os bancos islandeses no Reino Unido.
“O governo (britânico) colocou o Landesbanki (da Islândia), o Ministério das Finanças islandês e o Banco Central islandês na lista de organizações terroristas, junto com a Al-Qaeda e o Talibã. Este ato destruiu toda a confiança internacional nos bancos do país, que não tiveram chance de sobreviver (à crise)”, diz.
Pelo visto, ainda há muito para ser esclarecido neste caso. Afinal, a Grã-bretanha precisa explicar porque decidiu tomar medidas tão drásticas contra instituições islandesas.
2 comentários:
Muito interessante o tema. Estou ciente da situação, porém, gostei da abordagem a outros temas. A questão das ditas "intituições terroristas" geram curiosidade e espero que o Carta&Crônica continue acompanhando esse desenrolar para nos atualizar.
Vagner DUarte
Obrigado, Vagner. Legal que você está acompanhando, amigo.
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