Os protestos deste momento no Irã estão sendo mal-interpretados. Não está em jogo apenas o resultado das eleições atuais, que se suspeitam fraudados. Mais do que isso, a sociedade coloca em dúvida a própria continuidade do regime. E essa é a grande notícia do dia.
Também é bom deixar claro que muito provavelmente os resultados foram sim manipulados. Entretanto, soma-se a isso um “oba-oba” exagerado da imprensa internacional.
Talvez nada disso tenha sido planejado, mas os acontecimentos se deram da seguinte maneira: os veículos de comunicação estavam justificadamente interessados nas eleições iranianas; o regime percebeu que este era um movimento natural e pensou que poderia até lhe valer uns pontos junto à opinião pública internacional – houve até viagens bancadas para jornalistas estrangeiros, inclusive de alguns jornais brasileiros; os votos possivelmente foram manipulados, mas a maré acabou se voltando contra a cúpula de poder da república islâmica.
O volume de protesto foi muito além do aceitável – para os linha-duras, é claro. Afinal, é bem complicado impedir passeatas envolvendo mais de um milhão de pessoas. Só que a imprensa estava lá pra cobrir inclusive a violência da resposta oficial.
A provável fraude eleitoral é apenas um dos motivos da revolta. A falta de emprego e do poder de compra num país onde a inflação aumenta, mas cujo índice é maquiado pelo governo, a falta de liberdade reivindicada com ainda mais força por dois terços de população com idade inferior a 30 anos e o crescimento da diferença entre pobres e ricos são motivos bastante justificados para levar a massa de gente esclarecida de Teerã a desafiar as forças de repressão governamentais nas ruas.
Aliás, como gosto de repetir, à exceção da falta de liberdade de expressão e também de informação, os demais fatores são os mesmos que têm provocado grandes manifestações na Europa desde o ano passado – lembram do que aconteceu em Grécia, França e Ucrânia?
Seja como for, há dois grupos de resultados importantes emergindo desta confusão toda: fica claro que o líder supremo Ali Khamenei conseguiu reafirmar seu poder; e, por mais contraditório que possa parecer, o tiro acabou saindo pela culatra. Fraudando as eleições, o aiatolá que sucedeu Khomeini acabou por se colocar como alvo da revolta, levando a população a questionar a própria natureza do regime.
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