Muita gente boa vê esse movimento de oposição ao resultado das eleições no Irã com a otimista perspectiva de testemunhar a História em curso. Concordo em parte com esta visão justamente porque ninguém pode prever o que vai acontecer daqui pra frente. O regime pode até cair, mas isso não deve acontecer agora.
Na ansiedade por assistir à democratização iraniana, parte dos políticos da oposição americana está se atropelando nos discursos e conseguindo mesmo atrapalhar os protestos em Teerã. Com membros do Partido Republicano quase exigindo de Obama que torne públicas palavras de condenação à suposta fraude eleitoral, os partidários de Ahmadinejad agradecem a Alá e usam uma velha e conhecida tática: tentam unir a população com a alegação de que os Estados Unidos estão se intrometendo em assuntos internos do Irã.
Nada poderia ser mais improdutivo neste momento. E, pra falar a verdade, é bem possível que o combalido Partido Republicano esteja mais interessado em minar a estratégia de política externa dos Democratas do que de fato pretenda expressar solidariedade aos partidários de Moussavi.
De toda a maneira, a saia-justa entre Obama e o Irã está cada dia mais próxima, por mais que os protestos sirvam ao menos para adiar o encontro entre o presidente americano e Ahmadinejad. Sim, porque a Casa Branca não esconde de ninguém seu desejo de se aproximar de Teerã para um diálogo franco e, principalmente, direto.
E sem a menor dúvida, apertar a mão de um presidente que, além de todo o seu discurso radical, ainda é acusado de ter sido reeleito ilegitimamente, vai pegar mal. Muito mal. Principalmente quando se lembra que Obama é o autointitulado “porta-voz” da mudança.
Vale lembrar, entretanto, que a política externa americana é regida pelos preceitos constituintes dos EUA, mas também pelo realismo. Afinal, Obama esteve em Riad, na Arábia Saudita – um dos grandes aliados dos americanos no Oriente Médio – e ninguém é louco de cogitar a existência de qualquer traço de democracia no país. O mesmo vale para o Egito – outro grande parceiro dos Estados Unidos na região – palco do discurso mais significativo de Obama até agora, mas cujo presidente, Hosni Mubarak, é reeleito seguidamente com parcelas nada modestas dos votos.
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