terça-feira, 30 de junho de 2009

Além do golpe em Honduras

Alguns pontos importantes explicam o interesse maior do que o esperado no golpe militar que tirou o presidente Manuel Zelaya do poder em Honduras.

É o primeiro golpe de Estado na América Latina desde 1993 – decidi excluir deste cálculo a tentativa de pôr um presidente no lugar de Hugo Chávez, em 2002, na Venezuela.

Novamente, é uma chance de transformar o continente num campo de batalha quase caricato entre direita e esquerda. Parte dessa estratégia falhou com a sábia e rápida resposta do governo Obama de declarar oficialmente que não vai reconhecer qualquer presidente hondurenho posto no lugar de Zelaya.

A reviravolta política na América Central deixa os EUA especialmente preocupados. O assunto tem sido pouco comentado, mas existe um olhar aflito americano sobre esta situação, já que a instabilidade em Honduras pode mesmo se refletir perigosamente em território americano.

Tudo porque a facção criminosa Mara Salvatrucha – traço marcante do violento cotidiano das ruas do país centro-americano – está instalada também nos Estados Unidos, atuando principalmente no tráfico de drogas.

Para se ter a exata noção do tamanho do poder da MS em Honduras, o ex-presidente Ricardo Maduro foi formalmente ameaçado de morte, em 2005, ao estabelecer uma campanha de combate às “Maras” (é assim que a organização é conhecida).

Além disso, a MS conta com mais de 100 mil membros, número particularmente expressivo quando se leva em consideração que a população de Honduras não ultrapassa a casa dos 7 milhões.

A extensa cobertura da imprensa americana apresenta uma visão completamente oposta aos dos meios de comunicação latino-americanos sobre o golpe. Enquanto por aqui é quase consensual a posição de que a retirada de Zelaya do cargo ameaça a estabilidade democrática, alguns jornais dos EUA tentam de certa forma justificar os atos da oposição hondurenha.

“Não é surpresa que os chavistas da região procuram afirmar que ele (Zelaya) foi vítima de um golpe militar. Eles querem esconder o fato de que os militares agiram a partir de uma ordem da Justiça para defender a lei e a Constituição”, escreve a colunista do Wall Street Journal Mary Anastasia O’Grady.

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