sexta-feira, 5 de junho de 2009

Muito mais que palavras em apenas cinco meses

Uma das grandes críticas da opinião pública e dos governos árabes e muçulmanos ao discurso de Obama de ontem é de que as palavras corajosas do presidente americano não se traduzem em ações. Essa é uma visão equivocada, de quem enxerga sempre um copo meio vazio.

Desde que tomou posse, em janeiro, Obama praticamente fez uma cruzada estratégica de mudança dos parâmetros de relações internacionais dos Estados Unidos.

Por mais que tenha aumentado o efetivo militar no Afeganistão, algumas atitudes contrárias às diretrizes do governo Bush são emblemáticas. A determinação de fechar Guantánamo, a aproximação com os países árabes e muçulmanos, o repetitivo – e por vezes desgastante para Washington – processo de tentativa de levar o Irã à mesa de negociações, o fortalecimento dos laços com a Europa e até mesmo uma relativização do apoio a Israel.

Nesta semana, os Estados Unidos não vetaram o retorno de Cuba à Organização dos Estados Americanos (OEA), vigente desde 1962.

Não se pode dizer que Obama não tomou medidas práticas. É injustiça e má-vontade.

Por mais que tenha criticado Israel no Cairo, o presidente o fez muito mais para agradar a seus interlocutores muçulmanos do que por convicções políticas, ideológicas ou pessoais. Ele mesmo acrescentou que a aliança com os israelenses é indissolúvel.

Obama sabe que tem uma missão – e ele gosta disso, pra ser bem sincero – e quer tomar a dianteira. No caso específico do fechamento de Guantánamo, no entanto, precisa da colaboração de mais países. Por mais que todo mundo seja favorável ao fim da prisão americana em Cuba, até o momento somente a Alemanha se comprometeu a receber os terroristas presos.

E isso vai de encontro às críticas direcionadas a Obama. Neste caso, por exemplo, ele quer tomar medidas práticas. São os outros que se recusam a agir.

As críticas a Obama que têm sido feitas pelos países árabes e muçulmanos são parte do processo de pressão exercido neste momento que o presidente americano deixa claro que o Oriente Médio é um foco importante de seu governo. Essa pressão vai continuar como uma espécie de barganha para conseguir que Washington ceda o máximo possível aos argumentos desses Estados durante o rascunho de uma solução que Obama pensa ser possível para o conflito entre Israel e os palestinos.

É uma estratégia que pode ser vitoriosa, caso a atual administração dos EUA deixe ainda mais claro que precisa de rapidez, boa vontade e parceria dos líderes da região.

Em tempo – combatendo a proliferação do lugar-comum, disponibilizo aqui um mapa que mostra a distribuição do petróleo extraído do Oriente Médio. Como se vê, não há produção em Israel ou nos territórios da Autoridade Palestina.

Nenhum comentário: