Com os resultados preliminares das eleições iranianas sendo divulgados, a vitória de Ahmadinejad está muito próxima. A euforia criada pela imprensa mundial em torno da candidatura do “reformista” Mousavi se mostrou um engodo.
De todo modo, é preciso deixar claro – como alguns veículos sérios fizeram nesses dias – que mesmo uma hipotética virada eleitoral no Irã mudaria pouca coisa na relação do país com o ocidente. Simplesmente porque o presidente iraniano não é a principal figura no que concerne a decisões sobre política internacional, aproximação com os Estados Unidos e o programa nuclear – esses assuntos ficam por conta do líder supremo, o aiatolá Ali Khamenei, herdeiro político e religioso do aiatolá Khomeini.
Houve uma precipitação em torno da candidatura de Mousavi. Ou melhor, a imprensa brasileira – diga-se de passagem, seguindo uma tendência mundial amplificada pelas agências de notícias – deu a entender que a vitória do principal candidato de oposição a Ahmadinejad poderia levar quase a uma mudança real no destino do Irã e até mesmo um relaxamento das diretrizes que regem a república islâmica.
“Somente candidatos que mostrem lealdade suficiente aos ideais ‘revolucionários’ são autorizados pelo Conselho dos Guardiões a concorrer. O Conselho é composto por 12 ‘super delegados’ indicados direta ou indiretamente pelo supremo líder”, escreve o iraniano Karim Sadjadpour, pesquisador do Instituto Carnegie de Paz Internacional, na revista Foreign Policy.
De qualquer forma, a população iraniana deixou claro que deseja mudanças. E isso não será ignorado, principalmente por um regime inteligente e que pretende se perpetuar no poder. Por isso, acredito que mesmo Ahmadinejad deve dar um tempo nas provocações e aceitar o diálogo direto proposto por Barack Obama. Isso não significa, no entanto, que abrirá mão de seu programa nuclear, até porque o próprio presidente americano declarou, no discurso realizado no Cairo, que não se opõe aos objetivos nucleares iranianos desde que tenham fins pacíficos. As palavras de Obama serviram somente para assinar embaixo do maior projeto de governo de Ahmadinejad e podem mesmo ter sido decisivas para alimentar a reeleição deste último.
Seja como for, o poderio e a importância do Irã ficaram cada vez mais evidentes na intensa cobertura jornalística destinada às eleições do país. E isso pode ser um fator positivo, pelo menos para aqueles que desejam um arrefecimento das ambições militares de Teerã.
Como já escrevi neste espaço, quanto mais óbvio o objetivo estratégico do Irã de se tornar a grande potência do Oriente Médio, maior será a união entre os países sunitas para se opor à concretização deste cenário.
É exatamente sobre isso que escreve Jeffrey Goldberg, da revista Atlantic, de Nova Iorque, citando uma fonte anônima do governo dos Emirados Árabes Unidos.
“Mesmo que possamos nos esquecer que o Irã está em busca da obtenção de capacidade nuclear, todos os países árabes e do Golfo estão extremamente insatisfeitos com o envolvimento iraniano em nossa região. Vemos isso no Iraque, no Líbano, no Iêmen. Acabamos de ver Marrocos quebrar os laços diplomáticos com o Irã por causa disso. De um modo ou de outro, isso também está acontecendo em Afeganistão, Paquistão e Sudão”, diz.
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