quinta-feira, 25 de junho de 2009

A complexidade envolvendo a ocupação do Afeganistão

Dando sequência a um dos assuntos abordados ontem, a agência de notícias Associated Press publica uma informação importante. Segundo a AP, o objetivo principal do general Stanley McChrystal – que assumiu há uma semana a enorme responsabilidade de comandar as tropas americanas no Afeganistão – é promover uma mudança de consciência dos soldados dos EUA e da OTAN. A partir de agora, a ordem é proteger os civis e não somente se concentrar nos combates aos extremistas talibãs.

A determinação deve gerar um comunicado oficial listando novas regras para as ações no país. Uma alteração prática e importante, por exemplo, é evitar trocas de tiros com rebeldes escondidos em casas de civis. Em situações como esta, os soldados americanos devem esperar que os talibãs deixem as posições e decidam optar pelo combate externo. Somente aí a luta será permitida.

Sinceramente, não sei se isso vai funcionar. Acho que não, até porque o lado que opta por regras de conduta rígidas em situações extremas acaba se tornando o mais fraco do ponto de vista militar. É claro que esta nova determinação é interessante e bastante digna, mas estou analisando a ordem apenas como um peso a mais em batalhas que, muito provavelmente, acabam por usar métodos nada limpos.

Mas, sem a menor dúvida, adotar medidas claras e que visam à proteção dos civis afegãos faze parte do capital político do atual governo dos EUA. Mais ainda, acaba se tornando um contraponto a Bush e dão ainda mais peso e legitimidade à tentativa de Obama de abrir novas frentes diplomáticas. O mesmo se aplica ao anúncio da alocação de um embaixador americano na Síria depois de quatro anos.

Olhando o quadro da guerra do Afeganistão sob uma perspectiva ampliada, a própria presença americana no país é questionável para muita gente. Não só no Afeganistão, mas também a estratégia de ocupar países falidos e que se tornaram base para o lançamento de ataques terroristas contra os Estados Unidos.

A deflagração do ataque ao Afeganistão logo após os atentados de 11 de Setembro foi quase uma resposta estomacal. A população dos EUA pedia uma resposta aos ataques e a derrubada do regime Talibã era uma opção óbvia. Mas a situação envolve uma complexidade que vai além de tirar os extremistas do poder e inventar um aparato político e burocrático.

É no país que se concentram 93% da produção mundial de ópio. E essa é quase que exclusivamente seu único produto de exportação – mesmo que ilegal. Para impedir que os talibãs deixem de recrutar uma população sem alternativas econômicas, é preciso criar também uma nova estrutura de emprego; fábricas, empresas, sistema de transporte, educação para o trabalho. E essas são metas ambiciosas e, principalmente, caras demais. Nem os EUA, nem qualquer outro país do mundo estão dispostos a elaborar um Plano Marshall para o Afeganistão.

E por tudo isso, o cenário não poderia ser diferente. Não apenas os talibãs continuam suas atividades extremistas, como agora não estão mais restritos ao Afeganistão. Agora o grupo extremista e fanático está instalado logo ali ao lado, no Paquistão, país aliado dos Estados Unidos e detentor de tecnologia nuclear. Mas como ninguém antecipou os fatos e previu esta sucessão de acontecimentos que podem ser catastróficos?

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