Não há como negar que o discurso de 55 minutos de Obama no Cairo tenha sido espetacular. Com tantas metáforas, conexões, alusões e poesia, bem poderia ter sido de autoria do Cara. Como se esperava, o presidente americano conseguiu criar um clima de otimismo capaz de constranger qualquer um que ambicione mais uma guerra na região.
Houve de tudo. Como um professor, Obama pontuou cada item e, assim, conseguiu agradar a todo mundo. Dentre os pontos mais aguardados, falou sobre as semelhanças entre judaísmo, cristianismo e islamismo; reafirmou os laços “indissolúveis” entre EUA e Israel; usou o termo Palestina para mencionar a solução de dois Estados para dois povos vivendo em paz lado a lado; e cutucou o atual governo israelense pela continuidade da construção dos assentamentos na Cisjordânia.
O resultado do pronunciamento pode ser considerado positivo. Com direito a aplausos da plateia e até gritinhos de “eu te amo”. Uma espécie de Rock in Rio da política externa.
Alguns dos principais atores internacionais já deixaram claro que gostaram do que ouviram. O porta-voz da Autoridade Palestina disse estar “animado e com boas expectativas” depois do pronunciamento do presidente americano; o chefe de política externa da União Europeia, Javier Solana, usou o adjetivo “extraordinário”; até o governo israelense disse partilhar da visão apresentada por Obama, dizendo esperar que o discurso seja o início de uma era de conciliação entre o país e o mundo árabe e islâmico.
O ponto fora da curva ficou por conta do Irã. Em meio às comemorações pelos 30 anos da Revolução Islâmica, o líder supremo iraniano, o Aiatolá Ali Khamenei, fez um comunicado público em que afirmou que os muçulmanos de todo o mundo “odeiam a América do fundo de seus corações.
O discurso de Obama serve para amenizar as feridas. De fato, é bem provável que um novo começo com os países muçulmanos seja mesmo possível.
Mas existem grandes pontos de divergência e acho pouco viável que os EUA abram mão de valores considerados fundamentais em nome de uma aliança com os países da região – para ser mais claro, o próprio discurso de hoje reiterou a posição americana de não negociar com o Hamas enquanto o grupo não aceitar a existência de Israel e tampouco deixar de se utilizar de métodos terroristas.
Como a cooperação de governos muçulmanos vai depender em boa parte dos passos tomados na prática pelos Estados Unidos, a situação é de esperança, mas com reservas. O que se pôde ver hoje foi o presidente americano ansioso por pôr a mão na massa. Ele disse que vai se envolver pessoalmente na busca pela resolução do dramático impasse entre Israel e os palestinos, mas sem maniqueísmos que simplifiquem a situação.
“O conflito árabe-israelense não deve mais ser usado como forma de distrair a população dos países árabes de seus próprios problemas”, disse.
É preciso coragem para mandar esta mensagem tão direta. Acho que o pronunciamento de hoje pode ser o começo de um caminho.
2 comentários:
Não dá pra levar o Irã a serio.
Bom texto Henry! Também quero acreditar que o Obama seja um dos caminhos para paz no oriente médio! :-)
p.s.: sabe a palavra que apareceu no "verificador de palavras" para eu incluir meu comentário? "BORAT"!! hahaha!!
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