quarta-feira, 3 de junho de 2009

Otimismo de Obama contrasta com realidade do Oriente Médio

Pela primeira vez desde que assumiu a posição política mais importante do planeta, Barack Obama concedeu uma entrevista à BBC. É a primeira entrevista também a um veículo de comunicação do Reino Unido. Não significa muito, mas, segundo a própria megacorporação britânica, a empresa foi escolhida pela equipe de Obama porque seu objetivo é alcançar os rincões do mundo. E a BBC está em boa parte das parabólicas mesmo nos lugares mais isolados.

E esse foi um esquenta importante para a empreitada do líder americano. Conforme informado no texto de ontem, o aguardado discurso de quinta-feira, no Cairo, irá simbolizar uma aproximação ainda maior com o mundo islâmico. E por isso o próprio presidente dos EUA fez questão de enfatizar à empresa britânica dois dos mais importantes e sensíveis temas aos muçulmanos: a relação dos Estados Unidos com o Irã, e a posição norte-americana acerca de uma solução do conflito entre israelenses e palestinos.

Jogando pra galera, Obama disse que pretende conseguir progresso com os iranianos até o final do ano através de contatos diplomáticos firmes e diretos. Sobre o conflito entre Israel e os palestinos, a posição é a mesma de sempre: “é interesse dos Estados Unidos que existam dois Estados convivendo lado a lado em paz e segurança”, disse. É um discurso bonito, um tremendo lugar-comum, mas não uma solução definitiva (para ler o que escrevi sobre isso, clique aqui).

Enquanto é criado este clima de otimismo, os fatos “on the ground” – como gostam de dizer os analistas internacionais – mostram que as expectativas da região são opostas.

Desde domingo, Israel realiza o maior exercício civil de sua história. O objetivo é avaliar as reações de diversas áreas de segurança e da própria população para o caso de um ataque de grandes proporções ao país.

A mobilização nacional termina na quinta-feira – mesmo dia do discurso de Obama logo ali ao lado, no Egito –, quando equipes médicas, de resgate e segurança vão se deparar com cenários pessimistas diversos, incluindo simulações de explosões de armamento químico dentro de Israel. Precisa dizer mais alguma coisa? 

É uma pena, mas neste momento o otimismo no Oriente Médio está representado somente por boas intenções e discursos cinematográficos. E para por aí mesmo.


PS: ao contrário do que evidenciam os fatos, em encontro com seu parceiro de cargo na Rússia, o ministro das Relações Exteriores israelense, Avigdor Lieberman, disse à imprensa que Israel não tem intenções de atacar o Irã.

“Não queremos que um problema global seja resolvido por nossas mãos”, declarou.

Talvez ele esteja blefando. Talvez seja uma estratégia para despistar. O exercício civil envolvendo vários setores do país pode ser uma forma de mandar um recado para o Irã de que Israel está se preparando. Quem confunde sai na frente. O Irã confunde o mundo com a ambiguidade de declarações políticas e o sigilo em torno de seu programa nuclear. É possível que Israel tenha decidido fazer o mesmo. Todas as possibilidades estão abertas. 

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