A parceria entre os governos brasileiro e iraniano começa a render frutos políticos. Para Teerã, claro. Hoje, o Brasil foi um dos seis países a se abster de votar a resolução que condena o programa nuclear do Irã. Os "parceiros" de Ahmadinejad foram, além do Brasil, África do Sul, Egito, Afeganistão, Paquistão e Turquia. Venezuela, Cuba e Malásia se opuseram à decisão. Mesmo assim, no entanto, a resolução foi aprovada pelos demais membros que compõem a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) com placar final de 25 votos a três.
A mensagem que se coloca é a seguinte: a grande maioria dos estados ocidentais decidiu censurar o programa nuclear iraniano. A AIEA condena a construção secreta da usina de Qum e também o potencial militar do projeto atômico do Irã.
Alguns fatores causaram surpresa neste processo que culminou com a censura internacional ao governo iraniano: a enérgica reação do presidente da AIEA, Mohamed ElBaradei, que chegou mesmo a declarar que Teerã tem bloqueado o trabalho dos inspetores da agência; e também disse que seus esforços para revelar a verdade "chegaram a um final morto" - uma tradução ao pé-da-letra da expressão em inglês "dead end", usada por ele.
Outro aspecto interessante é o gesto ter recebido o apoio de Rússia e China, países aliados política e logisticamente do governo do Irã. O veto foi um trabalho conjunto de Estados Unidos, Alemanha, França, Grã-Bretanha, China e Rússia.
Acho que a atitude mostra o quanto Ahmadinejad está isolado. E não por acaso acontece na mesma semana em que o presidente iraniano visitou seus colegas em Venezuela, Bolívia e Brasil. A intenção é deixar claro que, ao contrário do que possa parecer, a comunidade internacional em peso – ou pelo menos a parte mais importante dela – condena o programa nuclear iraniano.
A estratégia internacional brasileira sofre um duro golpe na medida em que se afasta das expectativas acerca dessa questão. Mais ainda, coloca o Brasil no campo oposto. E o recado já havia sido dado quando o presidente Obama inusitadamente enviou um longo fax a Lula enumerando as preocupações americanas quanto a visita de Ahmadinejad. A carta foi recebida justamente às vésperas do encontro e pedia, dentre outros assuntos, que o líder brasileiro condenasse o projeto atômico de Teerã.
Como se sabe, isso não foi feito. E aí está o resultado de uma semana absolutamente crucial e polêmica no cenário internacional e para a política externa brasileira, em particular. Vamos aguardar quais serão os próximos passos.
Importante deixar claro que, mesmo tendo recebido Ahmadinejad na segunda-feira, acredito que não seria incoerente se o Brasil tivesse apoiado a resolução da AIEA de hoje. Simplesmente porque, em Brasília, Lula disse ser favorável ao direito de o Irã obter tecnologia nuclear, desde que para fins pacíficos. E o veto de hoje ocorreu justamente pelas dificuldades impostas aos inspetores internacionais, a preocupação de que o programa se transforme num processo militar e também por conta da usina secreta de Qum, descoberta através de fotos de satélite há dois meses.
A mensagem que se coloca é a seguinte: a grande maioria dos estados ocidentais decidiu censurar o programa nuclear iraniano. A AIEA condena a construção secreta da usina de Qum e também o potencial militar do projeto atômico do Irã.
Alguns fatores causaram surpresa neste processo que culminou com a censura internacional ao governo iraniano: a enérgica reação do presidente da AIEA, Mohamed ElBaradei, que chegou mesmo a declarar que Teerã tem bloqueado o trabalho dos inspetores da agência; e também disse que seus esforços para revelar a verdade "chegaram a um final morto" - uma tradução ao pé-da-letra da expressão em inglês "dead end", usada por ele.
Outro aspecto interessante é o gesto ter recebido o apoio de Rússia e China, países aliados política e logisticamente do governo do Irã. O veto foi um trabalho conjunto de Estados Unidos, Alemanha, França, Grã-Bretanha, China e Rússia.
Acho que a atitude mostra o quanto Ahmadinejad está isolado. E não por acaso acontece na mesma semana em que o presidente iraniano visitou seus colegas em Venezuela, Bolívia e Brasil. A intenção é deixar claro que, ao contrário do que possa parecer, a comunidade internacional em peso – ou pelo menos a parte mais importante dela – condena o programa nuclear iraniano.
A estratégia internacional brasileira sofre um duro golpe na medida em que se afasta das expectativas acerca dessa questão. Mais ainda, coloca o Brasil no campo oposto. E o recado já havia sido dado quando o presidente Obama inusitadamente enviou um longo fax a Lula enumerando as preocupações americanas quanto a visita de Ahmadinejad. A carta foi recebida justamente às vésperas do encontro e pedia, dentre outros assuntos, que o líder brasileiro condenasse o projeto atômico de Teerã.
Como se sabe, isso não foi feito. E aí está o resultado de uma semana absolutamente crucial e polêmica no cenário internacional e para a política externa brasileira, em particular. Vamos aguardar quais serão os próximos passos.
Importante deixar claro que, mesmo tendo recebido Ahmadinejad na segunda-feira, acredito que não seria incoerente se o Brasil tivesse apoiado a resolução da AIEA de hoje. Simplesmente porque, em Brasília, Lula disse ser favorável ao direito de o Irã obter tecnologia nuclear, desde que para fins pacíficos. E o veto de hoje ocorreu justamente pelas dificuldades impostas aos inspetores internacionais, a preocupação de que o programa se transforme num processo militar e também por conta da usina secreta de Qum, descoberta através de fotos de satélite há dois meses.
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