A imprensa americana tem adotado um tom bastante crítico aos resultados da visita do presidente Obama à China. Acho que esta é uma visão equivocada e injusta. O que se poderia esperar do primeiro encontro entre os líderes das duas potências? Que Obama conseguisse mudar toda a visão do regime chinês sobre direitos individuais, liberdade de imprensa ou direitos humanos?
Talvez o próprio Obama esteja colhendo os frutos ainda da imagem que sua equipe de marketing construiu ao longo de sua campanha presidencial. Ele pode, mas não pode tudo. É o líder da maior potência do planeta, mas não um Messias político que em menos de um ano de mandato vai colocar o mundo inteiro nos eixos dos valores prezados pela sociedade ocidental.
Acho que a visita de Obama foi importante. Não apenas por ter conseguido um compromisso com Beijing de que o governo popular e comunista do país vai se aproximar do ocidente para resolver questões fundamentais, como a capacidade nuclear de Irã e Coreia do Norte e o aquecimento global. É melhor ter a China por perto do que isolada e ausente da comunidade internacional. É verdade que o presidente americano foi atraído para uma cilada e acabou por acaso ratificando o poder do país asiático de resistir às pressões externas.
“Num golpe de mestre, eles (os chineses) mudaram o paradigma de discussões, ao colocar em pauta o protecionismo americano e excluir das conversas os riscos globais representados por sua política cambial”, analisa em entrevista ao New York Times o pesquisador Eswar S. Prasad, especialista em assuntos chineses da Universidade Cornell, nos EUA.
Mas qual era alternativa? Ignorar a existência da China e de seu poder econômico? Projeções recentes apontam que em 2027 o regime comunista vai ultrapassar os Estados Unidos como a maior economia do planeta. E este é um dado que não poder esquecido e vai pautar as relações internacionais daqui pra frente. Não se pode prever como será um mundo com a China dando as cartas. Mas é imprescindível se aproximar do país, até para evitar uma aliança de Beijing com os demais Estados da região que igualmente não prezam direitos humanos, liberdade de imprensa e expressão, democracia etc.
Sobre a visita de Obama, penso que vale citar um trecho do artigo do colunista Hamish McRae, publicado no britânico Independent. O parágrafo abaixo resume bem a evolução das relações sino-americanas e, principalmente, o crescimento chinês.
“Em 1972, quando o presidente Nixon esteve na China, ele era o líder da maior economia do mundo iniciando relações diplomáticas com os líderes do país mais populoso do mundo. Agora, Obama é o líder da maior economia do mundo se encontrando com os líderes da segunda maior economia. Se, nos próximos 37 anos o presidente americano estiver na China, ele será o líder da segunda maior economia do mundo visitando a maior economia do planeta”.
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