Após condenação internacional na última sexta-feira, o Irã respondeu como ninguém gostaria que respondesse: optou pelo tom desafiador. O regime de Mahmoud Ahmadinejad não aceitou as críticas e se recusa a cooperar. Pior do que isso, Teerã diz que pretende construir mais dez usinas nucleares. Foi da própria emissora de tevê estatal do país a notícia de que o gabinete presidencial já teria votado a decisão de iniciar a operação.
Não tem jeito. Todas as estratégias adotadas até agora não surtiram efeito. Os organismos multilaterais jogam a bola para o lado iraniano; com a mesma intensidade, o regime da república islâmica a devolve. E com isso o tom bélico sobe rumo ao que parece ser um inevitável – e, sem qualquer dúvida, devastador – confronto militar.
"Se o Irã busca energia para fins civis, não haveria necessidade de se comportar de maneira tão furtiva e opaca", diz editorial publicado hoje pelo jornal libanês Daily Star.
E o caminho parece não ter volta. Afinal, seria ainda mais patético se a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) recuasse. E isso não vai acontecer.
Segundo cálculo do Wall Street Journal, se de fato o Irã conseguisse construir dez novas usinas, o país teria à disposição 500 mil centrífugas. Por mais que este número não signifique nada num primeiro momento, ele faz sentido quando se sabe que, a partir disso, Teerã poderia produzir 160 bombas de urânio enriquecido. A cada ano.
O regime de Ahmadinejad não admite a possibilidade de ceder diante dos pedidos internacionais. Vale sempre lembrar que o presidente do Irã condicionou qualquer diálogo com os EUA a um pedido de desculpas de Washington pela participação do governo americano na derrubada do primeiro-ministro Mohammad Mossadegh, em 1953.
Ora, ninguém poderia imaginar que, somente a partir de uma votação da AIEA, Ahmadinejad passaria a colaborar. Seria preciso que deixar de lado todos os ressentimentos com o ocidente. E isso não vai acontecer. Até porque parte da política externa iraniana está baseada no confronto retórico com os países desenvolvidos – EUA e Grã-Bretanha, em particular. É este o espaço que o Irã ocupa no cenário internacional. Basta lembrar que Ahmadinejad deve assumir em breve a presidência dos países não-alinhados.
Resta saber, no entanto, qual será o limite dessa estratégia iraniana. Por mais "ressentimento" envolvido, não me parece que o Irã estaria disposto a um confronto de fato com Estados Unidos e Israel. Como Ahmadinejad sabe que até agora Jerusalém não conta com a aprovação de Obama para atacar – e o próprio Obama enfrenta grandes dificuldades no Afeganistão, inclusive com desaprovação interna da opinião pública norte-americana –, ele vai sustentar esta retórica desafiadora até que toda essa conjuntura internacional mude. E isso não deve acontecer em breve.
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