quarta-feira, 30 de dezembro de 2009
O dilema dos "Estados falidos"
quarta-feira, 23 de dezembro de 2009
Ambições sírias
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terça-feira, 22 de dezembro de 2009
E se o Irã tiver capacidade nuclear?
O presidente Ahmadinejad já mencionou diversas vezes e numa variada gama de oportunidades - desde a visita à usina de Isfahan, em seu país, até o discurso na Assembleia Geral da ONU - ser a favor que um outro Estado-membro das Nações Unidas seja "varrido do mapa".
Há um grande concerto internacional para diminuir o arsenal nuclear no planeta. Mesmo potências militares como Estados Unidos e Rússia têm mantido conversações a respeito e se mostram dispostas a reduzir seus próprios arsenais. Como signatário do Tratado de Não Proliferação Nuclear, ao construir usinas secretas e dificultar o trabalho dos inspetores da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), Teerã estaria, no mínimo, caminhando para um retrocesso nas relações internacionais.
Na melhor das hipóteses, vejo como inocentes os discursos dos que se colocam favoráveis ao direito de o Irã produzir armamento nuclear. Acho equivocado o argumento muitas vezes usado de "democratizar" o acesso a armas atômicas. Num momento em que são discutidas em conjunto decisões imediatas sobre salvar o meio-ambiente, penso que são contraditórios possíveis esforços para permitir que novos países alcancem potencial nuclear.
Seja como for, se não fossem suficientes os argumentos para impedir que Khamenei-Ahmadinejad tenham sucesso em sua empreitada, acho válido levar em consideração o cenário elaborado por Graham Tillett Allison Jr., cientista político e professor da John F. Kennedy School of Government, de Harvard.
"É possível que, se o Irã obtiver sucesso, na próxima década ele não seja o único Estado com armas nucleares no Oriente Médio. A Arábia Saudita, por exemplo, não irá aceitar um futuro no qual os iranianos – seus rivais xiitas – tenham capacidade nuclear e os sauditas, não. Egito e Turquia podem também seguir os passos atômicos da república islâmica", escreve. Este é apenas um trecho de seu artigo que será publicado na edição de janeiro da revista Foreign Policy.
Ou seja, seria a perda de controle total sobre armamentos nucleares numa das mais explosivas e instáveis regiões do planeta. Acho que ninguém gostaria de ver este cenário se tornar real. Ou gostaria?
segunda-feira, 21 de dezembro de 2009
A guerra da informação
A situação atual do Irã se resume a especulações de toda a sorte. É fato que há um movimento de oposição atuante, mas não se sabe se ele representa a maioria da população. O que está acontecendo neste momento é uma grande batalha midiática que mobiliza os dois lados da imprensa: a estatal iraniana, representante dos interesses do regime, e a do Ocidente, que tende a se aliar aos opositores. Até mesmo as agências de notícias e grandes redes de jornalismo estão com dificuldades para realizar seu trabalho.
Sabe-se que o governo do Irã tem impedido a imprensa internacional de cobrir os eventos. Mesmo o funeral do aiatolá Montazeri é vetado aos jornalistas estrangeiros. Os veículos têm realizado seu trabalho baseados em raro material primário disponível, como vídeos de celular enviados por manifestantes, circunstância muito semelhante aos eventos que sucederam as eleições de 12 de junho. Portanto, é difícil chegar a qualquer diagnóstico sobre a situação.
Como escrevi não faz muito tempo, o regime da república islâmica já percebeu que informação é uma das mais valiosas armas dos dias de hoje. Por isso pretende em pouco tempo criar sua própria agência de notícias. Os receptores de informação estão em meio ao fogo cruzado da propaganda midiática. Principalmente nós que estamos distantes dos acontecimentos em todos os sentidos. Mesmo jornalisticamente não temos acesso a qualquer fonte primária. Por isso seria irresponsável bater o martelo sobre o que está acontecendo agora nas ruas do Irã.
Por outro lado, podemos sim debater sobre as consequências. Se de fato a pressão popular for grande, é improvável que Ahmadinejad-Khamenei continuem no poder sem fazer qualquer concessão. Entretanto, se houver um ataque militar ao programa nuclear iraniano, a oposição interna na república islâmica se desmobilizará por completo, uma vez que uma investida estrangeira unirá toda a população em torno da defesa do país.
Amanhã, mais um curioso cenário sobre uma eventual aquisição de armamento nuclear pelo Irã.
sexta-feira, 18 de dezembro de 2009
Nem tudo está perdido
quinta-feira, 17 de dezembro de 2009
Perigosa provocação iraniana
quarta-feira, 16 de dezembro de 2009
Os assessores de imprensa voluntários de Ahmadinejad
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segunda-feira, 14 de dezembro de 2009
Sebastián Piñera pode ser novidade política no Chile
A vitória do empresário Sebastián Piñera no primeiro turno das eleições chilenas pode até ser revertida pelo candidato de esquerda e ex-presidente Eduardo Frei. O segundo turno acontece no próximo dia 17 de janeiro, mas a simples ascensão de Piñera a favorito no pleito já é por si só um fato importante da política sul-americana. Até porque acontece pouquíssimo tempo após a reeleição de Evo Morales, na Bolívia, e da eleição de José Mujica, no Uruguai, dois nomes importantes no quadro de renovação da esquerda do continente.
quinta-feira, 10 de dezembro de 2009
Governo do Paquistão corre risco de cair
Os ataques terroristas que deixaram mais de 50 mortos e outros 150 feridos no Paquistão nesta semana mostram como a situação no país vai de mal a pior. A verdade é que a estrutura de terror instalada há anos por lá acabou por vir à tona graças à invasão do Afeganistão, em 2001. Agora, este problema que cabe aos EUA resolver talvez se mostre tão ou mais complicado do que derrotar o Talibã.
Isso porque Washington vai se deparar com um dilema crucial para a política externa americana: confiar que o presidente Asif Ali Zardari conseguirá ter forças para controlar os radicais que formam parte da cúpula de segurança paquistanesa ou então invadir o Paquistão e, além de abrir mais uma frente de batalha no sudeste asiático, jogar para o alto a frágil aliança que mantém com Islamabad.
Acho que, para evitar esse problema, Obama simplesmente vai tentar levar a situação do jeito como está enquanto pode. A questão é que, ao seguir por este caminho, dá um tiro no próprio pé na medida em que praticamente inviabiliza qualquer chance de vitória no Afeganistão. Afinal, os teóricos de guerra americanos consideram impossível derrotar o Talibã enquanto a região de fronteira com o Paquistão permanecer como zona livre para os terroristas afegãos.
Os Estados Unidos talvez venham a enfrentar os resultados da medida que colocaram em prática ao aprovar no ano passado uma lei impedindo que os recursos financeiros sejam repassados diretamente para a estrutura militar paquistanesa – controlada por radicais que não escondem a simpatia nutrida pelo Talibã e por sua ideologia.
Não por acaso cada vez mais o Paquistão tem sido alvo de ataques terroristas. Não há dúvida de que se tratam de atos cometidos pelo Talibã, mas com a complacência dos oficiais da ISI, as forças de segurança paquistanesa. A situação do governo de Zardari é tão grave que existe a real possibilidade de um golpe militar. É o que sustenta Tarek Fatah, ex-ativista paquistanês e fundador do Congresso Muçulmano Canadense.
"O exército (do Paquistão) vê com suspeita e alarme os esforços do governo de apaziguar a situação no Afeganistão. Além disso, o estabelecimento de uma paz duradoura com a Índia poderia acabar com os motivos que justificariam a própria existência de um forte aparato militar paquistanês", escreve em artigo publicado no canadense Globe and Mail.
Ou seja, Zardari está aos poucos secando não apenas as fontes financeiras que abastecem as ISI, como também minando a relação nefasta entre as forças de segurança e Talibã e al-Qaeda. Seguramente, tudo isso não vai ficar impune. A missão principal de Obama na região é evitar que um golpe militar deponha o presidente paquistanês e coloque todo o vasto arsenal bélico do país – que inclui armamento nuclear – nas mãos de grupos aliados de dois dos principais grupos terroristas da atualidade.
quarta-feira, 9 de dezembro de 2009
Evo está com sorte
Ainda sobre as eleições bolivianas, acho que é possível fazer um paralelo entre a carreira de Evo Morales e alguns, digamos, recursos naturais que acompanharam sua trajetória política: a água que marcou um de seus mais representativos - e desesperados - protestos (abordarei este assunto com a atenção que ele merece num próximo texto); o gás e o petróleo responsáveis por controversas decisões internas e externas (inclusive afetando a Petrobrás, é bom lembrar); e o lítio, elemento que sem a menor dúvida vai marcar não apenas seu novo mandato, como também todas as manchetes da imprensa nos próximos anos.
Pouco se fala nisso - não duvidem, este assunto vai se tornar cada vez mais comum daqui pra frente -, mas a Bolívia é o país que abriga hoje a maior reserva inexplorada de lítio no planeta. Esta é uma daquelas ocasiões em que os leitores costumam dizer "e daí?". O fato é que o elemento pode salvar não apenas a indústria automobilistica como, por consequência, mudar a balança de poder internacional.
O lítio será usado na confecção de baterias para os veículos elétricos que serão produzidos para gradualmente substituir os automóveis movidos a gasolina. Talvez isso explique o interesse do Irã na Bolívia. Por ora, sem a menor dúvida, fica claro que os olhos do mundo estão se voltando aos poucos para o segundo país mais pobre da América do Sul. Até porque, vale lembrar que o governo de Barack Obama decidiu emprestar 11 bilhões de dólares para empresas que pesquisem formas de reduzir a dependência americana ao petróleo.
Localizada no solo do salar de Uyuni, uma das mais belas regiões da Bolívia, estima-se que a gigantesca reserva de lítio tem capacidade de produzir baterias para mais de 4,8 bilhões de carros. A extração do recurso ainda não começou, mas há grandes expectativas de como a descoberta de uma commodity que será tão valorizada nos próximos anos poderá mudar para melhor o destino dos dez milhões de bolivianos.
Hoje as discussões são retóricas. Principalmente porque o país não tem dinheiro para construir as minas. E isso será uma grande questão para Evo, uma vez que essa dificuldade prática pode obrigá-lo a dividir esta riqueza com transnacionais. Para se ter ideia de como a Bolívia pode mudar a lógica do mercado, hoje 70% da produção de bens a partir do lítio é controlada por duas empresas: a norte-americana Rockwood, de Nova Jersey, e a chilena Sociedad Química y Minera de Chile.
No mundo globalizado, algumas empresas já se ofereceram a Morales para projetar, sem qualquer custo por ora, a mina de Uyuni: o bilionário francês Vincent Bollore - dono de uma fábrica de baterias e que planeja construir carros elétricos - e ninguém menos que a sul-coreana LG e as japonesas Mitsubishi e Sumitomo. Neste aspecto, o socialismo do século 21 de Morales aparentemente vai ter de se associar ao capital externo para garantir os lucros a partir do lítio.
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Em comemoração a um ano de publicação do blog no Tempo, vou sortear o livro "Os Próximos 100 Anos", de George Friedman. Para concorrer, basta responder em uma linha à seguinte pergunta: "qual foi o acontecimento internacional mais importante do ano e por que?". As respostas devem ser enviadas para o email cartaecronica@gmail.com . Uma banca de jornalistas vai analisar as respostas e escolher a que julgar a mais interessante. Importante dizer que é preciso mandar o email com nome completo e endereço com CEP. O resultado sai no dia 12 de janeiro.
segunda-feira, 7 de dezembro de 2009
Evo Morales é reeleito com amplo apoio da população
E ele tem obtido sucesso, como mostra o resultado das eleições. Por mais que sejam criticáveis suas alianças internacionais, hoje a Bolívia representa uma forma de gestão inédita no mundo, aliando reestrutuação política e social com eficácia econômica que agrada até mesmo ao FMI - por mais estranho que isso possa parecer.
As estimativas de crescimento econômico no país estão na casa dos 4% - taxa superior à média dos países sul-americanos. Além disso, as reservas monetárias chegam a 7 bilhões de dólares. Sem dúvida, um dos grandes responsáveis pelo sucesso do governo Morales é o objetivo pelo qual ele foi eleito pela primeira vez: mudar a balança de poder injusta da Bolívia.
Ou seja, melhorar a condição de vida dos mais de 60% de indígenas que compõem a população. E isso dá muito trabalho. Assim, uma série de medidas vem sendo tomada, como investimentos em programas de bem-estar social, educação e acesso à saúde. E, é claro, tudo isso gera emprego, renda e movimenta a economia.
Talvez por isso mesmo a Bolívia tenha conseguido taxas de crescimento positivas mesmo durante a crise; por definição, seu governo não credita todas as responsabilidades à mão livre - e, como se sabe hoje, incompetente - do mercado.
Ao contrário de teóricos que sustentam que o governo de Evo Morales é assistencialista, acredito que seja possível fazer uma leitura diferente deste momento: desde 2005, a Bolívia tem pela primeira vez um governo preocupado com questões fundamentais e urgentes para a esmagadora - e historicamente esquecida - parcela da população.
Talvez seja difícil compreender a situação da Bolívia porque por lá há mesmo uma relação clara ente o sucesso de brancos e a miséria da população indígena. Por aqui existe sim racismo, mas, para não morrer afundada em culpa, nossa sociedade prefere fingir que os negros não sofrem hoje as consequências de políticas racistas de outrora - só não vê quem não quer.
sexta-feira, 4 de dezembro de 2009
Os passos a serem seguidos para se tornar uma potência
quinta-feira, 3 de dezembro de 2009
20 porcento no urânio; 80 porcento de chances de ataque
quarta-feira, 2 de dezembro de 2009
Sem grandes mudanças à vista
Para piorar, há oito anos Washington contava com grande apoio interno e externo para caçar bin-Laden – o esquecido objetivo inicial da campanha. Hoje, a situação é bem diferente. Boa parte da opinião pública americana considera que o governo deveria se empenhar em diminuir o desemprego – com taxa média superior à casa dos 10% -, por exemplo.
Definitivamente, o momento não é nada bom para Obama, cujo índice de aprovação caiu para 49% - 20 pontos a menos do que os 70% de sua posse. Mas o presidente americano não tem alternativas.
Não concordo com a opinião de que os EUA deveriam simplesmente deixar o Afeganistão. Penso que seria admitir perigosamente uma derrota para o fundamentalismo islâmico que teria consequências catastróficas em todo o mundo. A resistência Talibã seria um modelo a ser exportado para outras zonas de conflito envolvendo terroristas fundamentalistas. Mas tampouco acredito que seja função de Washington arcar com custos e riscos de criar um projeto de nação afegã, patrocinando inclusive o corrupto governo do presidente Hamid Karzai.
Talvez o dinheiro devesse ser investido no pagamento de salários mais atraentes para os que desejassem deixar as fileiras do fundamentalismo e se unir às embrionárias forças de segurança. Este me parece ser um caminho a ser seguido. Basta lembrar que os salários pagos pelos EUA atualmente estão na casa dos 100 dólares mensais, enquanto o Talibã oferece 300 dólares. Medidas pragmáticas como essa me parecem capazes de mudar a realidade em longo prazo.
Por ora, sabe-se apenas que os 30 mil soldados que Obama mandará para o Afeganistão irão contribuir para formar um respeitável contingente de quase 150 mil combatentes. Entretanto, esse número não vai ser eficaz sozinho, caso o "aliado" Paquistão continue a não reprimir os talibãs que circulam livremente na fronteira do país.