Os ataques terroristas que deixaram mais de 50 mortos e outros 150 feridos no Paquistão nesta semana mostram como a situação no país vai de mal a pior. A verdade é que a estrutura de terror instalada há anos por lá acabou por vir à tona graças à invasão do Afeganistão, em 2001. Agora, este problema que cabe aos EUA resolver talvez se mostre tão ou mais complicado do que derrotar o Talibã.
Isso porque Washington vai se deparar com um dilema crucial para a política externa americana: confiar que o presidente Asif Ali Zardari conseguirá ter forças para controlar os radicais que formam parte da cúpula de segurança paquistanesa ou então invadir o Paquistão e, além de abrir mais uma frente de batalha no sudeste asiático, jogar para o alto a frágil aliança que mantém com Islamabad.
Acho que, para evitar esse problema, Obama simplesmente vai tentar levar a situação do jeito como está enquanto pode. A questão é que, ao seguir por este caminho, dá um tiro no próprio pé na medida em que praticamente inviabiliza qualquer chance de vitória no Afeganistão. Afinal, os teóricos de guerra americanos consideram impossível derrotar o Talibã enquanto a região de fronteira com o Paquistão permanecer como zona livre para os terroristas afegãos.
Os Estados Unidos talvez venham a enfrentar os resultados da medida que colocaram em prática ao aprovar no ano passado uma lei impedindo que os recursos financeiros sejam repassados diretamente para a estrutura militar paquistanesa – controlada por radicais que não escondem a simpatia nutrida pelo Talibã e por sua ideologia.
Não por acaso cada vez mais o Paquistão tem sido alvo de ataques terroristas. Não há dúvida de que se tratam de atos cometidos pelo Talibã, mas com a complacência dos oficiais da ISI, as forças de segurança paquistanesa. A situação do governo de Zardari é tão grave que existe a real possibilidade de um golpe militar. É o que sustenta Tarek Fatah, ex-ativista paquistanês e fundador do Congresso Muçulmano Canadense.
"O exército (do Paquistão) vê com suspeita e alarme os esforços do governo de apaziguar a situação no Afeganistão. Além disso, o estabelecimento de uma paz duradoura com a Índia poderia acabar com os motivos que justificariam a própria existência de um forte aparato militar paquistanês", escreve em artigo publicado no canadense Globe and Mail.
Ou seja, Zardari está aos poucos secando não apenas as fontes financeiras que abastecem as ISI, como também minando a relação nefasta entre as forças de segurança e Talibã e al-Qaeda. Seguramente, tudo isso não vai ficar impune. A missão principal de Obama na região é evitar que um golpe militar deponha o presidente paquistanês e coloque todo o vasto arsenal bélico do país – que inclui armamento nuclear – nas mãos de grupos aliados de dois dos principais grupos terroristas da atualidade.
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