quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Evo está com sorte

Ainda sobre as eleições bolivianas, acho que é possível fazer um paralelo entre a carreira de Evo Morales e alguns, digamos, recursos naturais que acompanharam sua trajetória política: a água que marcou um de seus mais representativos - e desesperados - protestos (abordarei este assunto com a atenção que ele merece num próximo texto); o gás e o petróleo responsáveis por controversas decisões internas e externas (inclusive afetando a Petrobrás, é bom lembrar); e o lítio, elemento que sem a menor dúvida vai marcar não apenas seu novo mandato, como também todas as manchetes da imprensa nos próximos anos.

Pouco se fala nisso - não duvidem, este assunto vai se tornar cada vez mais comum daqui pra frente -, mas a Bolívia é o país que abriga hoje a maior reserva inexplorada de lítio no planeta. Esta é uma daquelas ocasiões em que os leitores costumam dizer "e daí?". O fato é que o elemento pode salvar não apenas a indústria automobilistica como, por consequência, mudar a balança de poder internacional.

O lítio será usado na confecção de baterias para os veículos elétricos que serão produzidos para gradualmente substituir os automóveis movidos a gasolina. Talvez isso explique o interesse do Irã na Bolívia. Por ora, sem a menor dúvida, fica claro que os olhos do mundo estão se voltando aos poucos para o segundo país mais pobre da América do Sul. Até porque, vale lembrar que o governo de Barack Obama decidiu emprestar 11 bilhões de dólares para empresas que pesquisem formas de reduzir a dependência americana ao petróleo.

Localizada no solo do salar de Uyuni, uma das mais belas regiões da Bolívia, estima-se que a gigantesca reserva de lítio tem capacidade de produzir baterias para mais de 4,8 bilhões de carros. A extração do recurso ainda não começou, mas há grandes expectativas de como a descoberta de uma commodity que será tão valorizada nos próximos anos poderá mudar para melhor o destino dos dez milhões de bolivianos.

Hoje as discussões são retóricas. Principalmente porque o país não tem dinheiro para construir as minas. E isso será uma grande questão para Evo, uma vez que essa dificuldade prática pode obrigá-lo a dividir esta riqueza com transnacionais. Para se ter ideia de como a Bolívia pode mudar a lógica do mercado, hoje 70% da produção de bens a partir do lítio é controlada por duas empresas: a norte-americana Rockwood, de Nova Jersey, e a chilena Sociedad Química y Minera de Chile.

No mundo globalizado, algumas empresas já se ofereceram a Morales para projetar, sem qualquer custo por ora, a mina de Uyuni: o bilionário francês Vincent Bollore - dono de uma fábrica de baterias e que planeja construir carros elétricos - e ninguém menos que a sul-coreana LG e as japonesas Mitsubishi e Sumitomo. Neste aspecto, o socialismo do século 21 de Morales aparentemente vai ter de se associar ao capital externo para garantir os lucros a partir do lítio.

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