A decisão da população suíça de proibir a construção de minaretes muçulmanos no país é lamentável. Ela é simplesmente a demonstração pública de que o choque de civilizações propagado por radicais surte efeito.
A Europa mostra que não apenas quer se abster das questões internacionais, mas também regredir a um passado idílico onde a multiplicidade étnica, histórica e religiosa deve ser sempre interpretada como ameaça aos "verdadeiros" cidadãos europeus. Todo mundo sabe o que esse discurso significa, não é?
Quase 60% dos suíços foram favoráveis à proibição. Ela se torna ainda mais incompreensível quando se leva em conta que os muçulmanos representam apenas 4% da população, muitos dos quais imigrantes bósnios, kosovares ou turcos. Pior: todo este tumulto aconteceu por causa de apenas quatro minaretes.
A Suíça mostra o pensamento europeu de hoje. O estrangeiro, o que não apresenta características dos considerados europeus "legítimos" e o imigrante representam a ameaça. Mesmo que, conforme as estatísticas deixam claro no caso específico da Suíça, a presença islâmica no país seja bastante reduzida.
A campanha que terminou por aprovar o polêmico banimento se sagrou vitoriosa porque seus patrocinadores políticos conseguiram transformá-la numa espécie de referendo sobre o próprio futuro da Suíça. Assim, não estaria em jogo apenas a construção dos minaretes, mas o temor de que um dia a influência islâmica fosse capaz de implementar a sharia - o código de conduta muçulmano - ou as mulheres passassem a usar burca, por exemplo.
Parece piada, mas foram esses "argumentos" risíveis que terminaram por convencer 22 dos 26 cantões a votar pelo "sim". A estratégia da extrema-direita foi a mesma de sempre. O outro deve ser sempre demonizado; ele é sempre uma ameaça ao chamado "mito original".
O resultado deste referendo talvez resuma bastante o pensamento europeu contemporâneo – que, aliás, está expresso também na política externa da União Europeia. A resposta a este posicionamento virá aos poucos: gradativamente, as opiniões europeias sobre o cenário internacional terão menos importância. Outros atores tomarão seu lugar.
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