quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

20 porcento no urânio; 80 porcento de chances de ataque

E a semana se encaminha para terminar mais ou menos como começou: na tentativa de entender os princípios suicidas da política externa iraniana. E hoje isso está mais claro ainda principalmente após a declaração de Mahmoud Ahmadinejad, em Isfahan, no Irã, de que vai produzir combustível enriquecido a 20 porcento – o índice corresponde ao senso comum na comunidade internacional do necessário para abastecer um reator nuclear.
A reação que mais explica a situação é a de um diplomata da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) que pediu para não ser identificado – por motivos óbvios, diga-se de passagem.
"Eles estão quase pedindo para serem atacados. Por definição, 20 por cento significa uso bélico", disse.
Desde que a discussão em torno de seu programa nuclear começou, o Irã opta por um jogo duplo. No exterior, garante que seus objetivos são pacíficos. Em casa, não hesita em subir o tom.
Está muito claro há algum tempo que o Irã pretende ser reconhecido como potência regional. Enriquecer urânio e quem sabe obter armas nucleares elevaria o país ao status de alguns de seus vizinhos que já possuem bombas atômicas ou são suspeitos de manter arsenais nucleares – casos de Índia, Paquistão e Israel.
Por isso, o governo de Ahmadinejad tenta ganhar tempo, enviando sinais ambíguos que confundem principalmente os países que pretendiam levar o Irã à mesa de negociações. Mas agora parece que a estratégia mudou. Após retornar de sua viagem em busca de aliados, o presidente iraniano mostra que talvez a cúpula de seu governo tenha decidido romper com esta estratégia e abrir uma escalada de provocações, justamente após a AIEA ter aprovado na semana passada o veto ao programa nuclear do país.
Ninguém sabe ao certo quais serão as consequências desta mudança de rumo. Em 17 de abril escrevi aqui mesmo que Israel atacaria o Irã até o final deste ano. Ainda acho que isso possa ocorrer, mas as probabilidades são menores por conta da compulsória desaprovação americana. Israel só atacará as usinas nucleares iranianas se Jerusalém considerar que o regime da república islâmica tem condições de representar uma ameaça na prática. Enquanto esta for uma hipótese retórica – um projeto, como é o caso – Israel não irá se expor à condenação internacional e de seu maior aliado.
O Irã no momento pretende unir sua população em torno do programa nuclear, uma vez que as feridas por conta das eleições presidenciais ainda estão abertas. O problema é que este jogo pode tocar fogo no planeta. Amanhã, abordarei mais a fundo essa questão.

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