Não por acaso o Irã testou mais mísseis de longo alcance ontem capazes de atingir Israel, parte do sudeste europeu e bases americanas no Golfo. O exercício militar acontece apenas dois dias após o Times, de Londres, publicar documentos comprovando que a República Islâmica estaria próxima de conseguir fabricar sua sonhada bomba nuclear.
A resposta do governo Ahmadinejad-Khamenei mostra como tem sido o comportamento do país quando se sente ameaçado. Afinal, uma das interpretações dadas à matéria é de que a alternativa militar está mais viva do que nunca. Nem Israel, nem os Estados Unidos trabalham com a possibilidade de um cenário internacional onde seja uma realidade lidar com um Irã com capacidade nuclear.
É possível perceber também que, ao mesmo tempo em que Obama faz questão de deixar claro que ainda prefere negociar com o Irã a apoiar logisticamente um ataque israelense, a situação mudou bastante desde as eleições iranianas de junho e a consequente resposta de Teerã à oposição interna.
Washington tem dado sinais claros de que, mesmo se mantendo aberto ao diálogo, há esforços concretos na aplicação de sanções. Foi assim quando no mês passado os EUA articularam politicamente junto a seus aliados a aprovação de uma condenação ao programa nuclear iraniano na Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA). E foi essa a mesma posição adotada após a divulgação de imagens do teste de ontem.
Na prática, o governo Obama já assume que o caminho para dialogar com Ahmadinejad é cada vez menos possível. A cúpula da República Islâmica respondeu negativamente a todos os convites de diálogo direto com os Estados Unidos. E vai continuar a fazê-lo por conta da estratégia escolhida – e altamente arriscada, diga-se de passagem – de usar a ameaça externa como propulsor de união nacional. A provocação de ontem foi mais um pilar para chegar ao sonhado momento em que iranianos sairão às ruas gritando slogans enaltecendo a coragem de Ahmadinejad em desafiar o "grande satã" (EUA) e o "pequeno satã" (Israel).
Esta é a tática mais velha do mundo e a história mostra que ela consegue funcionar muitas vezes. Acho que não vai ser diferente agora, mas no cenário atual uma guerra aberta no Oriente Médio colocando Israel e Irã frente a frente vai causar muita destruição. Em abril deste ano escrevi que possivelmente haveria um ataque militar ao programa nuclear iraniano. Infelizmente, acho que essa previsão está cada vez mais perto de se tornar realidade.
Um comentário:
E com muita tristeza que compartilho deste comunicado...
Ainda mantenho uma grande esperança que estas possibilidades não sejam reais
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