quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Ambições sírias

Após o assassinato do ex-primeiro-ministro libanês Rafik Hariri, em 2005, houve uma enfática condenação internacional. Até porque ficou claro que a influência Síria sobre o país havia chegado ao limite. Não cabe a nenhum outro Estado assassinar líderes de seus vizinhos. Em função disso, o governo de Damasco foi isolado, chegando inclusive a fazer parte do que o presidente Bush passou a chamar de "eixo do mal", numa de suas exposições acerca das relações internacionais.
Hoje, pouco mais de quatro anos, a Síria está de volta ao cenário. E, num passo geopolítico que conta com a aprovação de Barack Obama, o país sai aos poucos da cortina de isolamento do passado recente. Não apenas os Estados Unidos planejam enviar um novo embaixador à capital do país, como também há uma aproximação crescente com a vizinha Turquia.
E isso é bastante curioso. Principalmente porque este movimento acontece devido a motivos opostos. Como se sabe, a opinião pública turca praticamente exigiu uma mudança de postura de seu governo em relação a Israel após o conflito em Gaza, no início do ano. E não apenas isso. A Turquia fez uma revisão de suas estratégias internacionais, passando a se voltar ainda mais para o Oriente, em busca de reconhecimento interno e também flertando com países que culturalmente lhe parecem mais aliados a suas origens históricas.
Não por acaso, as críticas a Israel – com quem Ancara mantinha inclusive profícua parceria militar, vale dizer – aprofundaram-se, e o primeiro-ministro Tayyip Erdogan recebeu o presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad fazendo questão de enaltecer os laços históricos, culturais e religiosos a unir os dois países. Ambos, aliás, de maiorias islâmicas, mas não árabes, é sempre bom lembrar.
No último dia seis, inclusive, o líder turco esteve em Washington e disse a Obama que não irá enviar mais soldados ao Afeganistão. Apesar de membro da Otan, a aliança militar ocidental, fica cada vez mais nítida a tendência de ruptura de Ancara com seus parceiros europeus e os EUA.
Por outro lado, a Síria pretende sair do ostracismo no qual se encontrou nos últimos quatro anos. A aproximação com a Turquia é vista como uma possibilidade de mudança, de aproximação com um país que até o momento usufrui de ampla legitimidade em importantes palcos internacionais, como a própria Otan, por exemplo. Em setembro deste ano, Turquia e Síria acabaram com as exigências de visto para visitantes de ambos os países.
Talvez a união entre Síria e Turquia consiga formar um eixo de atuação independente. E rico, claro. Segundo o New York Times, o comércio entre Damasco e Ancara alcançou a cifra de 4 bilhões de dólares neste ano, o dobro do negociado em 2008. Mas a união tem ambições muito maiores do que apenas trocas de bens e serviços.
"É muito mais do que uma relação simplesmente econômica. Ela diz respeito à reorganização da região por conta da percepção de que o Ocidente é mais fraco e menos confiável para fazer qualquer coisa por aqui. Acho que a Síria pretende redefinir sua posição geopolítica", diz Samir al-Taqi, diretor do Centro Oriente para Estudos Internacionais em Damasco.

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