Recebi ontem de um amigo um texto escrito por Jeremy R. Hammond no blog do site do Foreign Policy Journal. O objetivo do autor é descredibilizar o diário Times, de Londres, responsável por uma das grandes reviravoltas internacionais da semana ao afirmar ter tido acesso a documentos secretos iranianos que provariam que a República Islâmica estaria a ponto de conseguir produzir sua bomba nuclear. Inicialmente, não vou entrar no mérito da matéria publicada pelo jornal inglês, nem muito menos me empenhar em tirar a credibilidade de Hammond. Meu ponto de interesse é outro; o fato é que o Irã, mesmo sem fazer qualquer esforço nos EUA ou na Europa, consegue eventualmente que voluntários partam na defesa de algo que por si só deveria ser condenado: o seu programa nuclear.
Não creio que ao escrever este artigo Hammond busque uma espécie de justiça internacional. Até porque não me parece que este seja um objetivo capaz de levar pesquisadores, estudiosos ou jornalistas a se debruçar sobre um tema e emitir opiniões sobre ele. O que considero interessante é a defesa venal feita pelo autor dos argumentos iranianos; para ele, Teerã quer construir usinas nucleares apenas para fins pacíficos e a polêmica frase de que "Israel deveria ser varrido do mapa" - repetida algumas vezes pelo presidente Mahmoud Ahmadinejad - é fruto de um "erro de tradução".
"Em primeiro lugar, a citação acabou sendo traduzida de maneira ambígua. Na verdade, quando esta declaração foi feita, Ahmadinejad falava da necessidade de regimes opressores caírem - além de Israel, ele citou o Iraque de Saddam Hussein e o Irã do Xá (Reza Pahlevi) como outros exemplos", escreve.
Ora, este me parece um argumento absolutamente ingênuo. Afinal, se o mundo inteiro entendeu errado que a intenção do presidente iraniano era de "varrer Israel do mapa", por que Ahmadinejad não fez um outro pronunciamento ou divulgou comunicado oficial explicando esta situação e afirmando não ter a intenção de "varrer Israel do mapa"? Ou por que não contestou esta declaração nas inúmeras vezes em que esteve no ocidente? Ou mesmo quando discursou na ONU? Seria simples mudar esta "percepção" equivocada. Aliás, não seria apenas simples, como poderia ser um movimento interessante e apaziguador, um gesto de boa vontade de aproximação pacífica com Estados Unidos e União Europeia, por exemplo.
Mas, como se sabe, nada disso foi feito. Muito pelo contrário. Quando o Irã foi alvo de condenação na Agência Internacional de Energia Atômica, respondeu dizendo que não somente não iria interromper seu programa nuclear, como estava pronto para ordenar a construção de mais dez usinas atômicas. Definitivamente, este não é um movimento em direção à conversação ou à busca de um entendimento.
Além disso, algumas outras articulações internacionais iranianas não foram lembradas por Jeremy R. Hammond. Por exemplo, nada foi dito sobre o apoio dado por Teerã ao Hamas, em Gaza, e ao Hezbolah, no Líbano. Não me parece que armar os dois grupos possa ser interpretado como um gesto pacífico em nome da estabilização do Oriente Médio.
Em relação à matéria do Times, acho que existe sim muita especulação sobre o programa nuclear iraniano. Pode ser que as fontes ouvidas pelo jornal não sejam confiáveis. Mas não acredito que um veículo de imprensa com tanta tradição na Europa colocaria toda sua credibilidade à prova em nome de "propaganda para a política externa americana", como dá a entender Hammond.
Acho que sempre é missão do leitor ou do analista buscar fontes primárias. Mas no caso do Irã, por exemplo, isso é absolutamente impossível. Como as respostas da República Islâmica a acusações deste tipo têm normalmente adotado o padrão de subir o tom e ameaçar seus críticos, não resta outra alternativa a não ser desconfiar dos propósitos do programa nuclear iraniano. O resto soa como ingenuidade e um tanto de assessoria de imprensa voluntária.
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