sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Nem tudo está perdido

Para terminar a semana, um texto que reflete um pouco mais sobre a situação no Irã. Apesar do tom um tanto catastrófico do post de ontem, gostaria de dizer que ainda acredito numa solução pacífica capaz de evitar um cataclisma nuclear no Oriente Médio. E isso pode estar nas mãos da oposição iraniana. Ela pode impedir um ataque ao país e parece estar absolutamente consciente disso.
Desde o último dia sete, os estudantes de Teerã têm saído às ruas da capital para protestar contra o líder supremo Ali Khamenei e o presidente Ahmadinejad. E agora não apenas se opõem aos polêmicos resultados das eleições de junho deste ano, mas também à violência que se seguiu às manifestações.
Como lembra o líder da Frente Democrática Iraniana, Heshmat Tabarzadi, o movimento conta com a participação de figuras ilustres da sociedade. É o caso, por exemplo, de Faezeh Hashemi Rafsanjani, filha de ninguém menos que Ali Akbar Hashemi Rafsanjani, a segunda figura da cúpula política atual do Irã.
Será que, mesmo nessas condições, o governo vai reprimir violentamente os protestos? Ou vai aceitar voltar atrás na repressão à liberdade de imprensa e discutir o futuro do país – inclusive do projeto nuclear – com a oposição?
Por mais que essas manifestações sejam alvo da repressão oficial, o governo iraniano sabe que os estudantes compõem a vanguarda da sociedade do país. Simplesmente porque os que hoje comandam a república islâmica fizeram parte de movimentos estudantis num passado nem tão distante assim. É o caso, por exemplo, do próprio presidente Ahmadinejad, que, como líder estudantil, esteve diretamente envolvido na ampla frente popular que derrubou o Xá, em 1979.
Acho que este deve ser um momento de espera pelos acontecimentos internos no Irã. Em entrevista hoje ao site da BBC, Mehdi Karoubi, um dos líderes da oposição e candidato derrotado nas últimas eleições, fez uma declaração importante:
"Desde o primeiro dia em que os resultados das eleições foram divulgados, estou convencido de que Ahmadinejad não vai conseguir terminar seu mandato de quatro anos", disse.
Acho que é preciso dar um desconto ao que ele afirma, até porque é uma das partes diretamente interessadas na substituição do atual presidente. Mas existe de fato um grande movimento descontente com o governo e que exige mudanças. Este é o momento em que o ocidente não deveria se precipitar, mas aguardar os acontecimentos que estão por vir. Até porque fazer qualquer coisa agora é jogar uma pá-de-cal nas pretensões da oposição iraniana.
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