segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

A guerra da informação

A morte do grande aiatolá Hossein Ali Montazeri complementa o texto da última sexta-feira. Alimenta ainda mais a onda de protestos que vem tomando conta do Irã e é também repleta de significados: como acredita a revista Time, dos EUA, fornece um mártir aos manifestantes em busca de mudanças do regime. Curiosamente, o líder religioso e político veio a morrer justamente em Qom, cidade sagrada onde foi descoberta a construção de uma usina nuclear desconhecida para os inspetores da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA).

A situação atual do Irã se resume a especulações de toda a sorte. É fato que há um movimento de oposição atuante, mas não se sabe se ele representa a maioria da população. O que está acontecendo neste momento é uma grande batalha midiática que mobiliza os dois lados da imprensa: a estatal iraniana, representante dos interesses do regime, e a do Ocidente, que tende a se aliar aos opositores. Até mesmo as agências de notícias e grandes redes de jornalismo estão com dificuldades para realizar seu trabalho.

Sabe-se que o governo do Irã tem impedido a imprensa internacional de cobrir os eventos. Mesmo o funeral do aiatolá Montazeri é vetado aos jornalistas estrangeiros. Os veículos têm realizado seu trabalho baseados em raro material primário disponível, como vídeos de celular enviados por manifestantes, circunstância muito semelhante aos eventos que sucederam as eleições de 12 de junho. Portanto, é difícil chegar a qualquer diagnóstico sobre a situação.

Como escrevi não faz muito tempo, o regime da república islâmica já percebeu que informação é uma das mais valiosas armas dos dias de hoje. Por isso pretende em pouco tempo criar sua própria agência de notícias. Os receptores de informação estão em meio ao fogo cruzado da propaganda midiática. Principalmente nós que estamos distantes dos acontecimentos em todos os sentidos. Mesmo jornalisticamente não temos acesso a qualquer fonte primária. Por isso seria irresponsável bater o martelo sobre o que está acontecendo agora nas ruas do Irã.

Por outro lado, podemos sim debater sobre as consequências. Se de fato a pressão popular for grande, é improvável que Ahmadinejad-Khamenei continuem no poder sem fazer qualquer concessão. Entretanto, se houver um ataque militar ao programa nuclear iraniano, a oposição interna na república islâmica se desmobilizará por completo, uma vez que uma investida estrangeira unirá toda a população em torno da defesa do país.

Amanhã, mais um curioso cenário sobre uma eventual aquisição de armamento nuclear pelo Irã.
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Em comemoração a um ano de publicação do blog no Tempo, vou sortear o livro “Os Próximos 100 Anos”, de George Friedman. Para concorrer, basta responder em uma linha à seguinte pergunta: “qual foi o acontecimento internacional mais importante do ano e por que?”. As respostas devem ser enviadas para o email cartaecronica@gmail.com . Uma banca de jornalistas vai analisar as respostas e escolher a que julgar a mais interessante. Importante dizer que é preciso mandar o email com nome completo e endereço com CEP. O resultado sai no dia 12 de janeiro.

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