Como mencionei ontem, acredito que o governo iraniano tenha duas grandes preocupações: conseguir legitimidade interna sufocando os que questionaram o processo eleitoral do meio deste ano; e se estabelecer como potência regional no Oriente Médio. Sinceramente, não sei se existe uma diferença de importância entre os dois projetos na visão de Teerã. Ambos são fundamentais para as aspirações geopolíticas do país e acabam se retroalimentando.
Mas uma lição ficou bastante clara para o governo da república islâmica após a controversa reeleição de Ahmadinejad: a simples repressão física não seria mais suficiente para conter as vozes dissonantes. Era preciso travar uma guerra interna para varrer do Irã a possibilidade de articulação de manifestações como as que ocorreram.
E aí entra em cena um programa que a cúpula de dirigentes do país vem chamando de "soft war" e confirma tudo o que Ahmadinejad disse quando esteve por aqui ("a era de confrontos militares acabou").
O Irã entra de vez no circuito de propaganda que os governos de todo o mundo – principalmente de países que enfrentam protestos internacionais – costumam chamar de "diplomacia pública". A diferença, neste caso, é que o objetivo vai além de explicar as razões de determinadas atitudes ou discursos iranianos no exterior. A meta é fechar o cerco internamente, uma vez que Teerã colocou a culpa pela revolta popular nas antenas parabólicas da BBC, muito comuns nas casas da classe média do país.
Uma companhia associada à temida Guarda Revolucionária adquiriu a maior parte das ações da empresa que controla as telecomunicações no Irã – provedores de internet e companhias de telefonia celular.
O líder supremo, o aiatolá Ali Khamenei, pretende “reislamizar” o sistema educacional, diminuir as influências seculares e "purificar" a mídia.
O ponto alto deste projeto está na criação de uma agência de notícias cujo nome deverá ser Atlas e usará como modelo os serviços da temida BBC e da Associated Press, com a diferença de difundir os ideais da revolução islâmica.
Aí sim, com o país unido em torno do pensamento de Khamenei e Ahmadinejad, o programa nuclear poderá ser a ameaça lançada contra as forças do exterior que ousarem questionar o Irã pela tentativa de obtenção de armas atômicas.
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