Como consequência prática da operação do Mossad em Dubai, aparentemente há indícios de uma crise política entre Grã-Bretanha e Israel. Pegou muito mal o uso de seis passaportes britânicos para forjar as identidades dos membros da equipe que matou o contrabandista de armas do Hamas. Mas por enquanto as informações são confusas quanto à autenticidade dos documentos. Mesmo Londres não consegue chegar a uma conclusão: não está claro se os passaportes foram falsificados ou se foram feitas cópias dos originais.
O que se sabe por ora é que nomes de cidadãos do Reino Unido que emigraram para Israel foram usados na ação. Mas, a agência britânica responsável por monitorar o crime organizado já confirmou que as fotografias e as assinaturas não batem com as dos passaportes verdadeiros emitidos pelas autoridades do país. Ou seja, os documentos seriam falsos.
Há uma briga retórica e política envolvendo os dois países. O secretário de assuntos internacionais, David Miliband, disse estar ofendido com o uso dos passaportes. A imprensa britânica segue a mesma linha e se mostra profundamente revoltada, exigindo uma resposta do governo, talvez até um boicote a Israel.
"O roubo das identidades põe em perigo não apenas os seis britânicos que tiveram seus passaportes usados, mas qualquer um que circule com documentos do Reino Unido no mundo árabe", diz editorial do Guardian.
Acho as alegações um tanto exageradas, mas consigo compreendê-las inseridas numa disputa política. O uso dos passaportes britânicos infringe a soberania daquele país. Por mais que Inglaterra, Irlanda, França e Alemanha - países que tiveram documentos usados na ação - exijam respostas dos representantes israelenses locais, acho que esta crise será temporária.
Primeiro porque oficialmente Israel nega a autoria do assassinato. Ou seja, os embaixadores não sabem ou não estão autorizados a confirmar qualquer informação. Segundo porque há um tanto de hipocrisia nesta situação. Ora, os mesmos países que agora se mostram contrariados com o crime em Dubai condenam ações militares massivas de Israel, que colocam em risco a vida de civis palestinos. Os europeus cobram de Jerusalém o uso de alternativas de inteligência e espionagem simultaneamente a negociações de paz.
Mas não há como escapar desta sinuca mesmo. Até porque nenhum governo pode vir a público e concordar com o uso de seus documentos para este tipo de ação. Por outro lado, ninguém imagina que espiões irão usar seus próprios passaportes quando estão em serviço. Muito menos passaportes israelenses. Todos esses fatores só me levam a crer que depois de terminado o jogo de cena e a exigência de explicações, nada de mais sério vai acontecer.
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