Não há como fugir do assunto. Pelo menos não hoje, quando o Irã comemora o 31º aniversário da Revolução Islâmica de 1979. Para celebrar a ocasião, o presidente Mahmoud Ahmadinejad reuniu milhares de seguidores na Praça Azadi – também conhecida como Praça da Liberdade – e defendeu as pretensões atômicas do país. Diante da plateia, orgulhosamente declarou: "Somos agora um Estado nuclear".
Eu não ficaria orgulhoso se o Brasil fosse um Estado nuclear. Mas essa é uma questão pessoal e fica a cargo dos cidadãos iranianos comprarem esse slogan. Sempre há um tanto de apelo emocional nessas ocasiões de grandes comemorações nacionais e no Irã não é diferente. O programa nuclear do país é hoje a representação de uma batalha messiânica contra o Ocidente e é assim repercutida pelas autoridades governamentais e pela imprensa oficial.
Ontem escrevi sobre as relações sino-iranianas. A China não vai aprovar as sanções do Conselho de Segurança da ONU por um motivo muito importante: os chineses importam hoje 15% do petróleo consumido internamente do Irã. Por mais que não seja um número impressionante, diante do tamanho da economia chinesa, é bastante significativo. Além dos motivos expostos ontem, de caráter mais ideológico, este é um item econômico que não pode ser esquecido.
O que muita gente tem esquecido nesta batalha retórica é que há muita chance de nenhum pacote de sanções impressionar o Irã. E o motivo é bem simples: a República Islâmica já é afetada por medidas desta natureza há muito tempo, mais precisamente desde 1995.
Naquele ano, os EUA impuseram um embargo econômico completo ao país. Em 2006, ou seja, há pouquíssimo tempo, o mesmo Conselho de Segurança da ONU aplicou sanções pela primeira vez por conta do projeto nuclear iraniano. Há quatro anos os membros da ONU - não apenas do Conselho, é importante deixar claro, mas todos os 192 países que compõem a organização - estão proibidos de vender ou desenvolver suprimentos que pudessem ser usados no programa nuclear do país.
E por acaso alguma dessas medidas foi capaz de impedir que Ahmadinejad chegasse ao status atual?
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