segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Novidades de aliados islâmicos dos EUA

Há algumas boas notícias internacionais para o presidente Barack Obama. Três de seus principais aliados no mundo islâmico têm mostrado sinais de cooperação, possibilidade de reforma política e uma pequena grande mudança em relação aos direitos das mulheres. Respectivamente, os sinais positivos vêm de Paquistão, Egito e Arábia Saudita, atores muito importantes no cenário político com o qual a Casa Branca lida.

A recente operação conjunta entre forças americanas e paquistanesas conseguiu promover a captura do mais importante comandante militar talibã, o mulá Abdul Ghani Baradar. É a primeira contribuição significativa entre as forças de segurança do Paquistão, conhecida como ISI, e os Estados Unidos. Sempre é válido lembrar que poderosos membros das ISI são bastante simpáticos ao Talibã e muitos são acusados de contribuir monetária e logisticamente com o grupo fundamentalista.
Tudo isso só torna a captura de Baradar ainda mais significativa. Afinal de contas, as ISI atuam como um Estado dentro do Estado, boicotando o poder governamental de Islamabad quando bem entendem e tornando a luta contra os talibãs no Afeganistão e no Paquistão ainda mais complicada. Um outro dado muito importante diz respeito à ajuda financeira repassada por Washington ao governo paquistanês: 1,5 bilhão de dólares anuais, sendo que boa parte deste dinheiro acaba nas mãos dos próprios talibãs - através das ISI. Um tiro no próprio pé dos EUA.
Outro ponto importante é a possibilidade de mudança política no Egito. Com eleições marcadas para 2011, o país é governado há três décadas pelo presidente Hosni Mubarak, que vinha tentado fazer seu sucessor; ninguém menos que o próprio filho, Gamal. Mas tudo indica que a disputa vai ser acirrada. E desta vez com um nome de respeito internacional: o prêmio Nobel da Paz Mohamed ElBaradei, que, após 12 anos à frente da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), deixou o cargo e pretende concorrer nas eleições egípcias. Os americanos contribuem com 1,2 bilhão de dólares anualmente para o governo do Cairo. Se El Baradei for eleito, ninguém sabe se jogará conforme as regras dos EUA.
O caso mais curioso, mas não menos importante, é o da Arábia Saudita. O mais fiel aliado americano dentre os países islâmicos estuda a possibilidade de uma significativa abertura às mulheres. O governo cogita perrmitir que advogadas possam trabalhar nas cortes do país pela primeira vez. Até o momento, as mulheres podem ser empregadas apenas em escritórios. Elas tampouco podem dirigir e as que têm menos de 45 anos de idade precisam de permissão de algum homem da família para viajar. A Arábia Saudita possui cerca de 20% das reservas de petróleo conhecidas.
Talvez seja apenas coincidência, mas acho que as mudanças de Paquistão e Arábia Saudita têm a ver com as duas guerras americanas na região: contra o Talibã e o possível conflito com o Irã.
Com o sudeste asiático a caminho de um confronto com Teerã, as posições tendem a se polarizar ainda mais. Muito embora a permissão de trabalho às mulheres sauditas seja necessariamente parte da política local do regime saudita, a decisão sem a menor dúvida agrada aos EUA. O caso do Egito é a maior incógnita. Afinal de contas, ElBaradei recebeu o Nobel da Paz em 2005 por suas posições contrárias à invasão americana ao Iraque. E deve agir da mesma forma no caso de uma ofensiva contra o Irã, desestabilizando o time dos Estados árabes sunitas que, por fim, estarão ao lados de Washington numa eventual invasão americana ao Irã.

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