A desvalorização do euro e a crise europeia que se aprofunda a cada dia são problemas difíceis de serem solucionados porque demandam tempo, paciência e consenso entre os membros da UE que adotaram a moeda única, há pouco mais de dez anos. Naquela época, uma das grandes questões era como ajustar dois dilemas ainda fundamentais: equalizar as economias dos países sem interferir na soberania nacional.
Como o momento atual vem mostrando, é muito difícil - quando não impossível - resolver este impasse. Simplesmente porque a crise na zona do euro ocorre basicamente por conta da enorme distância que separa grandes economias - como de Alemanha e Holanda, por exemplo - de pares menos privilegiados - caso do grupo que vem sendo chamado de PIIGS (Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha).
A Grécia é o caso a ser estudado nesta situação. É o maior ícone dos países que, apesar da adoção do euro, não conseguiram ter força econômica capaz de competir no mercado. Ou seja, a bolha estourou. Uma década vivendo graças a baixas taxas de empréstimo e crédito abundante na zona do euro criou a sensação de falsa estabilidade e bem-estar social. Tudo isso está prestes a ruir simplesmente porque os débitos são altíssimos. Como importaram muito e exportaram pouco, a lógica é simples.
Hoje, por exemplo, as taxas de débito dos PIIGS são altíssimas. Vale lembrar que os dados refletem a dívida em relação ao PIB desses países. A Grécia deve 12,7%; Irlanda, 12,5%; Espanha, 11,2%. As metas econômicas estabeleciam que as dívidas não deveriam ultrapassar os 3%.
A situação é tão grave que especuladores não excluem a possibilidade de falência completa de alguns países, uma vez que eles deixariam de conseguir obter qualquer empréstimo por conta dos déficits. Hoje acredito que a situação na Europa seja a mais grave desde a Segunda Guerra Mundial.
Como se sabe, graves problemas econômicos geram também graves consequências políticas. As decisões tomadas para interromper a decadência dos PIIGS não são nada palatáveis. Até porque afetam as populações e causam grande revolta. E isso já está acontecendo na Grécia, onde o primeiro-ministro George Papandreou anunciou um pacote de medidas que incluem a modificação da idade de aposentadoria de 61 para 63 anos, o congelamento dos salários do setor público e o aumento do preço do combustível. Nada popular, sem dúvida.
A situação ainda é agravada com a perda de importância da Europa nos fóruns de discussões globais. Mas este é um problema que os governos do continente criaram para si. O que se sabe agora é que tão cedo os europeus não vão conseguir sair deste atoleiro econômico.
2 comentários:
A Segunda Guerra Mundial não nasceu da Primeira, nasce da Grande Depessão. Em menos de um decênio regimes totalitários tomaram metade da Europa--e de outras partes do mundo--depois do Cash de Wall Street em 1929. A ditadura de Mussolini de 1922 já era totalitária em 1932. Em 1932 Gyüla Gombos chegou ao poder na Hungria. Em 1934 o Engelbert Dolfuss tomou cona da Áustria. Adolf Hitler chego ao poder na Alemanha em 1933, em 1934 já estava consolidado o pior dos totalitarismos. O Japão experimentou quarteladas em 1929, 1930, 1931 e com isso invadiu a Manchúria. Salazar fez uma ditadura integralista em 1931. Metaxas trouxe o fascismo à Grécia em 1935. A Falange pegou em armas contra a Repúbica Espanhola em 1936 e em 1939 Francisco Franco, o supremo comandante de Primo de Rivera chegou ao poder.
A crise de 2008 não atingiu um efeito tão danoso à democracia, embora na Grécia o regime me pareça bem duro, e a Itália ter o Mandarinato Berlusconi que parece compensr a falta de um fascismo explícito. Há risco para a democracia nos PIIGS? Com a credibilidade norte-americana na lona e a China atravessando o Crash co razoável segurança, será que os retardatários da Europa não pensaram nesse modeo chinês de um jeito positivo?
Ótimos questionamentos, Bruno. Acho que a economia é apenas o início de um processo que deve se aprofundar na Europa. Arrisco dizer, inclusive, que ele pode até resultar na dissolução da UE tal como a conhecemos hoje. Não creio que as democracias estejam em risco nos PIIGS, mas, certamente, com a adoção de medidas repletas de austeridade, as populações desses países irão reagir.
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