As notícias finais da semana são no mínimo muito interessantes, quando não surreais. Assustado pela pressão de sanções que invariavelmente serão impostas pelas potências ocidentais, o Irã jogou o Brasil na frente do batalhão de fuzilamento, conforme informaram hoje diversas publicações sul-americanas, como o jornal O Globo e o diário argentino Página 12. Aparentemente, trata-se apenas de mais um balão de ensaio de Teerã o anúncio de que Brasília estaria disposta a enriquecer seu urânio. Mas que a estratégia de Ahmadinejad é inteligente, isso é sim.
Primeiro porque desvia o foco da disputa entre a República Islâmica e americanos e europeus. Segundo, porque a antipatia internacional ao Brasil é quase inexistente. E, finalmente, em terceiro lugar, porque mexe com o ego do Itamaraty.
Apesar de já estar claro que o país não tem qualquer condição técnica de realizar a operação, ser lembrado como alternativa num dos principais focos de disputa internacional de certa forma pode vir a seduzir as autoridades daqui a intervir favoravelmente ao Irã. Lembrando sempre que o maior objetivo nacional é conseguir uma vaga permanente no Conselho de Segurança da ONU, estar no meio da resolução do problema em torno do programa nuclear iraniano é uma oportunidade um tanto rara de participar do circuito Helena Rubinstein político.
Do ponto de vista iraniano, não se enganem, é apenas mais uma tentativa de ganhar tempo e impedir a aplicação das sanções. As conversas em torno dos objetivos nucleares do país já duram sete anos e poucos ganhos foram alcançados neste período. Resta saber se o corpo diplomático brasileiro vai morder esta isca. Até agora, isso não aconteceu, mas não me espantaria se a situação mudasse de uma hora pra outra.
E como quase nenhum acontecimento fica isolado nos dias de hoje, outras peças do jogo de xadrez entre Irã e EUA se movimentam neste fim da semana (não fim de semana, que fique claro).
A China pode comprar a briga de Ahmadinejad e já sinalizou ser contrária à aplicação de sanções. Além de ter sido a posição de Beijing durante boa parte deste tempo, os chineses devem se tornar ainda mais inflexíveis por conta das recentes trocas de acusações entre o país e a Casa Branca. E a situação deve se agravar ainda mais com a confirmada visita do Dalai Lama a Washington no final do mês.
Mas nem tudo está perdido aos americanos. A Romênia surpreendeu e se voluntariou para receber o sistema de mísseis defensivos, projeto há tempos planejado pelos EUA para interceptar eventuais ataques iranianos ao continente e a seus aliados no Oriente Médio. O objetivo do presidente romeno, Traian Basescu, é surfar na onda dos ex-países da zona soviética em busca de afirmação internacional e aproximação com o Ocidente. A próxima semana promete mais capítulos interessantíssimos nesta trama envolvendo europeus, americanos, brasileiros e iranianos.
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