Sem a menor dúvida, a história mais interessante do período pós-carnavalesco é o misterioso assassinato do comandante militar do Hamas, Mahmoud al-Mabhouh. A polícia de Dubai, onde ele foi morto, apresentou à imprensa os detalhes que conseguiu levantar um mês após o crime. A situação adquiriu status quase espetacular por envolver uma trama com todos os ingredientes de um filme de ação. Até o momento, a conta recai unicamente sobre o Mossad, o serviço secreto israelense. Acho que vale a pena tentar entender os motivos por trás da operação.
Em primeiro lugar, acredito mesmo que os 11 membros da equipe que sufocou al-Mabhouh sejam do Mossad. Não haveria motivos para outros grupos de engajarem numa ação tão meticulosa quanto arriscada. Além disso, os passaportes falsos confecccionados usavam dados pessoais de judeus europeus que emigraram para Israel - informações a que somente instituições israelenses poderiam ter acesso.
Sobre este ponto, inclusive, acho válido relatar a análise de Ron Ben-Yishai, analista de segurança do site israelense Ynet. Para ele, não há motivos para os cidadãos que tiveram seus passaportes "clonados" temerem represálias no exterior, como vem sendo divulgado equivocadamente por alguns veículos de imprensa. Os nomes verdadeiros foram acrescidos de nomes falsos, dados como datas de nascimento e número de registro, alterados, e, mais importante, os governos europeus declararam oficialmente que os passaportes são falsos.
Dito isso, cabe entender por que assassinar Mahmoud al-Mabhouh era tão importante para Israel e, tão fundamental quanto esta avaliação, por que agora. O comandante militar do Hamas esteve envolvido diretamente no sequestro e assassinato de dois soldados israelenses em 1989. Numa operação tão rica em detalhes quanto a que o matou, al-Mabhouh levou a cabo os assassinatos disfarçando-se de judeu ortodoxo. Mas sem dúvida este não foi o único motivo que levou à formação de uma equipe de 11 pessoas para uma operação secreta e logisticamente complicada para assassiná-lo num país árabe.
Mahmoud al-Mabhouh era o responsável pelo contrabando de mísseis de longo alcance iranianos para a Faixa de Gaza. Eliminá-lo numa operação espetacular com detalhes repercutidos pela imprensa internacional atende a dois grandes objetivos geopolíticos de Israel: o primeiro deles é óbvio; interromper o fluxo de armamento para o Hamas. Importante dizer que são esses os mísseis que ameaçam a região sul de Israel onde vivem cerca de três milhões de pessoas - pouco menos da metade da população do país.
O segundo motivo é fácil de ser adivinhando, mas menos óbvio. E explica por que o Mossad realizou a operação agora.
Com um início de ano conturbado nas relações entre o Ocidente e o programa nuclear iraniano, a ação manda um recado direto a Mahmoud Ahmadinejad. O serviço secreto israelense não medirá esforços em eliminar - mesmo em território hostil - os inimigos do país. E esta explicação teórica se divide em duas outras: assassinatos seletivos no exterior em parte se apresentam como possibilidades alternativas ou paralelas a um ataque total ao Irã - projeto que por ora não conta com apoio americano - e deixam claro, neste caso, que Israel não aceitará interferências de Teerã no conflito com os palestinos - nada mais representativo do que assassinar o interlocutor logístico entre o Hamas e o Irã.
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