O atentado que matou 21 pessoas em Alexandria, no Egito, na virada do ano pode ter consequências políticas graves. Ainda não se conhece o grupo que realizou o ataque, mas não há qualquer dúvida quanto à participação efetiva - ideológica e prática - do fundamentalismo religioso. Tendo como alvo a principal igreja copta local, o trágico evento mostra as grandes divisões internas no país - que podem se alastrar por todo o Oriente Médio. Os cristãos no Egito correspondem a cerca de 10% da população. A verdade é que jamais o governo se empenhou de fato em protegê-los, mas a situação agora é diferente. O Egito pode ser a bola da vez da al-Qaeda. Esta é inclusive a posição oficial adotada pelas autoridades locais.
Foto: cristãos protestam no Egito
E ela explica até certo ponto a situação. Como já tratei inúmeras vezes, o jogo político regional é dominado por tensões e disputas entre Estados e organizações xiitas e sunitas. O caso egípcio expõe parte da complexidade geopolítica, uma vez que tanto o país quanto a organização terrorista de bin Laden são sunitas. Isso não impede, de nenhuma maneira, que ambos possuam visões e ambições conflitantes. Até porque há outra dicotomia envolvida: o Egito é um dos principais aliados americanos no Oriente Médio.
Outra forma de entender os ataques aos cristãos é recordar a disputa interna do país. No poder há 30 anos, o partido do presidente Hosni Mubarak (Partido Nacional Democrático) venceu as recentes eleições parlamentares sob duras acusações de manipulação de votos. Havia alguma expectativa de que seu filho Gamal o sucedesse no poder, o que ainda não aconteceu. Em meio à frustração local, o extremismo ganha força e adeptos. E justamente um dos mais importantes movimentos radicais do mundo - a Irmandade Muçulmana - representa o principal polo de oposição ao presidente egípcio. O grupo não apenas é o pioneiro do radicalismo islâmico, como também suas ideias são fonte de inspiração para a maior parte das organizações terroristas muçulmanas.
Talvez, o raciocínio radical siga alguma lógica. Se não foi possível mudar o regime egípcio através de eleições, atingir a minoria religiosa mais importante do Oriente Médio seja uma alternativa. E, para completar, deixar cristãos em situação delicada num país cujo governo é apoiado pelo ocidente torna tudo ainda mais constrangedor. Não apenas expõe as fraquezas de Hosni Mubarak diante de seus aliados, como também deixa o presidente egípcio em maus lençóis: num país amplamente muçulmano que tem a prestigiosa organização fundamentalista islâmica como principal opositora ao governo, Mubarak se empenhar em proteger cristãos para acalmar aliados ocidentais vai pegar mal. Muito mal.
Nunca é demais citar que reacender as disputas religiosas regionais é o maior sonhos dos fundamentalistas islâmicos. Principalmente de bin Laden, que, após os atentados de 11 de Setembro, fez questão de citar a expulsão dos muçulmanos da península ibérica, no final do século 15, como um dos motivos para a realização dos ataques.
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