Havia muita expectativa quanto ao encontro entre o presidente chinês, Hu Jintao, e o americano, Barack Obama. Não era para menos mesmo. Não se tratava somente da primeira visita de um presidente chinês aos EUA desde 1997, mas também da primeira ocasião em que os líderes das duas maiores economias do planeta iriam estar frente a frente após a China ultrapassar o Japão, no ano passado. Uma série de questões pairava no ar: Jintao aceitaria responder perguntas sobre direitos humanos? Faria algum anúncio sobre a manipulação do Yuan, a moeda chinesa, que permite ao país ser o exportador mais competitivo do mundo? Estaria disposto a explicar as estranhas diretrizes de direitos humanos aplicadas por Beijing a dissidentes políticos?
Apesar de toda esta atmosfera grandiosa e da recepção de gala, nada de espetacular foi dito. É válido mencionar a coragem de repórteres da imprensa americana ao questionar Hu Jintao sobre direitos humanos, por exemplo. A bola foi levantada e o máximo que o presidente chinês se permitiu foi um comentário misterioso e nada revelador; “ainda há muito que precisa ser feito nesta área”, disse. De fato, mesmo com este relativo constrangimento, a visita valeu muito para o presidente da China. O desgaste não lhe importa muito porque ele é o retrato fiel da própria política externa do país.
Se está muito claro que Beijing pouco se importa com as grandes questões internacionais, Jintao também segue a mesma linha. A república popular continua a manter empreendimentos em centros de contestação mundial, como Irã, Sudão e Coreia do Norte. E há algumas razões que explicam este tipo de pensamento: a política externa chinesa é menos ideológica do que a interna. E isso soa até um pouco contraditório quando comparado aos próprios EUA.
Identificados como representantes óbvios do capitalismo, os americanos estão acostumados a estar no foco das atenções mundiais e, por isso, tentam justificar atitudes políticas internacionais cobrindo-as de uma aura ética (muito embora nem sempre tal ética se confirme na prática). Como a impressão vale muito mais do que a realidade – e muitas vezes há verdade sim, vale dizer –, Washington tenta definir alguns de seus gestos geopolíticos mais importantes a partir de certos eufemismos morais.
A China definitivamente não tem esta preocupação. Curiosamente, o regime comunista está interessado somente em fazer negócios, em crescer política e economicamente. Aliás, como se pode concluir no caso chinês, os ganhos políticos se consolidam através de sua grande e competitiva economia. E para que os resultados continuem positivos, vale tudo: pirataria, manipulação monetária, roubo de propriedade intelectual – americana, principalmente, é bom lembrar.
A visita de Hu Jintao aos EUA está cercada desses valores. E foi profundamente lucrativa aos chineses. Para o presidente do país, a simples grande atmosfera criada em Washington já era um sinal de vitória. Finalmente, os esforços – mesmo que muitos deles não tivessem qualquer preocupação ética, como escrevi, ou preocupação em se cercar de um “status ético” – de anos de trabalho da China foram reconhecidos pela maior potência do planeta.
E neste momento existe a expectativa de um maior “atrevimento” geopolítico do país. Está em curso um movimento estratégico para requisitar direitos sobre todo o Mar do Sul da China (imagem), apesar de suas águas se estenderem também a Vietnã, Tailândia, Filipinas e Malásia. Pode ser o início de mais um expansionismo chinês – e agora com uma espécie de “legitimidade” por seu status de grande potência mundial.
E neste momento existe a expectativa de um maior “atrevimento” geopolítico do país. Está em curso um movimento estratégico para requisitar direitos sobre todo o Mar do Sul da China (imagem), apesar de suas águas se estenderem também a Vietnã, Tailândia, Filipinas e Malásia. Pode ser o início de mais um expansionismo chinês – e agora com uma espécie de “legitimidade” por seu status de grande potência mundial.
Nenhum comentário:
Postar um comentário