Nesta quinta-feira, o terrorismo voltou a agir dentro das fronteiras de Israel. Ao contrário dos muitos ataques de mísseis lançados a partir de Gaza pelo Hamas, desta vez houve grande dose de ousadia. Uma equipe de combatentes invadiu o Estado judeu e, durante três horas, em plena luz do dia, ofereceu um pacote combo de ataques coordenados: abriu fogo sobre civis e soldados, detonou uma bomba e lançou um míssil contra um carro. A operação deixou sete mortos. Seis civis e um militar, além de 40 feridos.
Um atentado desta magnitude causa muitos impactos. O primeiro deles já aconteceu. Israel contra-atacou em Gaza, matando cinco membros do grupo radical Hamas. Curiosamente, o Hamas não assumiu a autoria, mas parabenizou os autores. No final das contas, é muito pouco provável que a série de ataques não tenha alguma participação do grupo palestino.
Além da resposta militar israelense, a própria relação do país com o Egito começa a balançar. Pouco antes da queda de Hosni Mubarak, em fevereiro, Shimon Peres foi bastante criticado ao exaltar o então presidente egípcio, enaltecendo sua importância para o equilíbrio regional. Como está claro hoje, Peres se equivocou politicamente e quase foi levado junto com a onda que derrubou Mubarak. Mas o presidente israelense simplesmente foi ingênuo ao expor suas opiniões publicamente.
Muabarak era ditador, corrupto e seus mais de 30 anos de mandato eram totalmente inaceitáveis sob o ponto de vista da população egípcia. Mesmo as relações que mantinha com os israelenses sempre foram frias, distantes. O acordo de paz não permitiu evoluções significativas sociais entre os dois povos. No entanto, a fronteira sul com Israel se acalmou. Não porque o ex-líder egípcio nutria sentimentos pelos vizinhos judeus, mas porque sufocava os movimentos islâmicos em seu território com mão-de-ferro em nome da própria sobrevivência política. A Irmandade Muçulmana era o único grupo que aglutinava apoio popular doméstico significativo no país e, por isso, era vigiado de perto pela administração Mubarak. A atuação dos radicais era limitada, o que, na prática, beneficiava Israel.
Desde a queda do ex-presidente egípcio, este cenário mudou. O embargou que existia à transferência de armas e produtos para Gaza foi suspenso. Foram realizados pelo menos cinco ataques contra infraestruturas de empresas egípcias que forneciam gás para Israel. Fica cada vez mais evidente que o atual governo do Cairo não está lá muito preocupado em manter a segurança na fronteira com Israel e sustentar a vigilância sobre os grupos radicais que se articulam e atuam no Sinai. O clima de desconfiança e os acontecimentos recentes devem levar os israelenses a aumentar a presença militar no sul do país – movimento oposto à redução contínua realizada durante as últimas três décadas.
Os ventos da Primavera Árabe chegaram tortos ao Estado Judeu. A sublevação popular na Síria fez com que o regime de Assad optasse por articular uma invasão de militantes pró-palestinos à região norte de Israel; no sul, os egípcios não parecem dispostos a impedir avanços de grupos radicais. Curiosamente, os atentados desta quinta-feira impediram a continuidade do movimento social israelense que se inspirou nas reivindicações populares árabes. Por conta dos ataques, a União dos Estudantes de Israel suspendeu as manifestações contra o alto custo de vida planejadas para este final de semana.
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