Uma das teorias que mais me agradam sobre o crescimento chinês diz respeito às disputas marítimas em formação. A princípio, isso pode soar estranho, como texto antigo de algum livro empoeirado. Mas faz todo o sentido e os fatos recentes contribuem para solidificar esta linha de pensamento.
Foto: Varyag, o primeiro porta-aviões chinês
As grandes rivalidades entre EUA e China giram em torno de várias questões: economia, política, tecnologia, avanços militares. Em todos esses itens, há um denominador comum: a luta por hegemonia. Ao contrário do Oriente Médio – onde até mesmo atores mais audazes (como o Irã) sabem que o primeiro passo de suas estratégias mira somente um poder regional –, chineses e americanos lutam cabeça a cabeça pela liderança global. E todas as questões mencionadas se misturam, claro.
E é interessante notar que as previsões de crescimento econômico de Beijing são positivas e antecipam que o regime comunista deve ultrapassar os EUA como a maior economia do mundo. O curioso neste caso é que o ponto fraco dos americanos é justamente o que deveria ser seu ponto mais forte: a complexidade econômica. Os EUA avançaram de tal forma que toda a sofisticação adquirida acabou por se voltar contra o país. A produção hoje está em baixa. Há 30 anos, vinte milhões de americanos trabalhavam nas fábricas. Hoje, são apenas 12 milhões. Os dados são fornecidos pelo professor de estudos estratégicos Hugh White, que aponta como maiores vilões os setores de tecnologia da informação e finanças.
E adivinhem quem roubou dos americanos a massa de produção em escala mundial, esta galinha de ovos de ouro gigante? Pois é. Como se sabe, é simplesmente impossível competir com a produtividade e os preços praticados pelos chineses. Assim, a fábrica internacional está localizada na China. Com isso, o eixo de poder deixou Europa e América e forçosamente se estabeleceu na Ásia. Como lembra a Foreign Policy, hoje, mais da metade da frota mercantil mundial passa pela região. E, claro, a China não pode prescindir do poderio naval equivalente à importância estratégica de suas águas, principalmente do Mar do Sul da China.
Não é por acaso que Vietnã e Filipinas passaram a reclamar de uma postura marítima mais agressiva por parte dos chineses nos últimos meses. E tampouco se pode considerar uma mera eventualidade que os chineses tenham decidido apresentar seu primeiro porta-aviões na última quarta-feira. Como menciona a Economist, a China era o único membro das Nações Unidas que, até agora, não possuía seu próprio porta-aviões. Beijing se prepara para expandir suas pretensões navais. E certamente os EUA não irão acatar silenciosamente este grande movimento geopolítico.
Um comentário:
Gostei muito da sua análise, parabéns!
Creio que você quis dizer que a China é o único membro permanente do Conselho de Segurança da ONU a não possuir Porta-Aviões.
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