A discussão americana sobre o aumento do teto da dívida do país terminou. Mas isso não significa que este é um assunto superado. De nenhuma maneira. A grande queda de braço entre Obama, republicanos, o Tea Party e até parte dos partidários democratas deixou marcas. Resta saber se elas serão profundas o bastante para influenciarem a corrida presidencial do ano que vem. A disputa pelo cargo político mais importante do mundo costuma girar em torno das discussões do momento. Vence quem tem o melhor lastro recente. Por isso a briga é para construir fatos positivos que estejam frescos na cabeça dos americanos durante as eleições.
O problema que os responsáveis pelo marketing dos candidatos vão enfrentar é justamente trazer as respectivas vitórias para o centro das discussões. Por exemplo, a violência do embate em torno do aumento da dívida nacional foi tão grande que fez com que os americanos deixassem de lado uma das maiores conquistas da administração Obama: o assassinato de Osama bin Laden. A derrota imposta à al-Qaeda já parece não ter tanta importância. Este é o jogo dos Republicanos. E eles conseguiram impor uma estratégia vitoriosa.
Quanto mais tempo a discussão durasse, quanto mais tempo a pauta fosse o calote da maior potência do mundo e as graves consequências disso, pior para as pretensões de reeleição de Obama. Ou seja, os Republicanos não se mostraram lá muito preocupados com a economia nacional. As ambições políticas falaram mais alto. Dizer isso claramente é algo bastante delicado não apenas nos EUA. Basta lembrar que este é o tipo de acusação que o ex-presidente Fernando Henrique usava contra o PT. O mesmo foi feito quando a ordem se inverteu e o PT passou para a situação.
No entanto, se Obama fizer isso em Washington, corre o risco de abrir a Caixa de Pandora. Haverá múltiplas acusações por parte dos Republicanos e o palco vai estar ainda mais à disposição do Tea Party, o movimento mais conservador da história política americana. Por falar nisso, a própria discussão que se encerra tem muito a ver com a estreita visão política do grupo cujo discurso rasteiro ganha mais adeptos a cada dia (e justamente pela fragilidade de seus argumentos). Para o Tea Party, a atuação do governo deve ser mínima. A base desta suposta verdade não está somente na defesa do liberalismo do mercado (cuja completa ausência regulatória foi uma das causas da crise econômica), mas em algo ainda mais banal: onde há governo, há impostos. E, claro, ninguém gosta de pagar impostos.
Para ilustrar o poder deste radicalismo, vale dar uma olhada nos resultados de uma pesquisa recente do instituto Gallup: para 34% dos americanos, os custos de seguro social e o Medicare (plano de saúde gerido pelo governo destinado à população mais pobre que não tem como pagar por assistência médica privada) são os responsáveis pela crise federal. Ou seja, o que para os brasileiros é inquestionável, para um terço dos americanos significa prejuízo ao país. Obama e boa parte dos membros do partido Democrata estão na outra ponta deste pensamento.
A demora na aprovação do aumento da dívida nacional é um sintoma do poder político crescente do Tea Party e desta massa de gente que acredita que o governo mais atrapalha do que ajuda. O desconhecimento quanto a que interesses o Tea Party realmente está associado contribui para suas vitórias pontuais. Mas vale dizer que, nesta discussão toda, seus membros conseguiram excluir do texto final a proposta defendida por Obama de aumentar impostos dos mais ricos. Deu para entender onde esta pista vai dar, certo?
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