sábado, 20 de agosto de 2011

O isolamento de Israel

A situação no Oriente Médio voltou a se deteriorar. Infelizmente, a região ensina muito rápido que os sinais devem ser sempre interpretados para pior. A nova escalada de violência entre israelenses e palestinos antecipa acontecimentos que podem colocar todos os atores em grande perigo. Os atentados cometidos por terroristas palestinos na quinta-feira foram rapidamente retaliados pela Força Aérea Israelense. No entanto, à medida que novos fatos se sucedem, fica mais evidente que possivelmente há algum tipo de orquestração por trás deste momento.


Como escrevi no último post, o principal suspeito é o Hamas. Vale dizer que é pouco provável que o grupo tenha agido por conta própria e, menos ainda, somente com as armas a que tinha acesso antes da queda do ex-presidente egípcio Hosni Mubarak. Ao manter rígido controle na fronteira entre Gaza e o Egito, o líder deposto evitava o acesso do Hamas a grandes quantidades de armamento.


Agora, a situação é diferente. Os 80 mísseis Grad – de médio e longo alcances – lançados de Gaza neste sábado mostram que a situação mudou de vez. Não custa lembrar que o Irã “exporta” este equipamento a seus aliados na fronteira com Israel – o Hamas e o Hezbollah, este último mantém bases espalhadas no sul do Líbano.


Não é surpresa a movimentação do grupo coordenado por Teerã neste momento. Um de seus pilares de sustentação corre risco iminente. Bashar al-Assad, na Síria, jamais esteve em situação tão delicada, tendo conseguido condenação até mesmo do Conselho de Direitos Humanos da ONU (órgão que serviu de palco para muitas articulações políticas que pouco ou nada tinham a ver com os nobres objetivos da instituição).


Para completar, não custa fazer menção aos interesses iranianos. A hegemonia regional passa pelo enfraquecimento de Israel. E como é pouco provável que isso seja alcançado militarmente, a ideia é fazê-lo por meios políticos. Quanto mais isolado o Estado Judeu estiver, menos seguro o país estará. As alianças regionais de Israel já são poucas. Agora, serão raras.


E aí é preciso voltar um pouco no tempo e reconstituir os acontecimentos de quinta, os ataques de atiradores no sul de Israel. Fontes ouvidas pela agência de notícias Associated Press dizem que os combatentes que invadiram o território israelense teriam atirado em guardas egípcios baseados na fronteira com Israel, forçando-os a participar da troca de fogo com os soldados israelenses.


No final das contas, três militares egípcios morreram. Agora, o governo do Cairo não apenas acusa Israel, mas também deixou vazar rumores de que o embaixador em Tel Aviv seria chamado de volta. O sentimento anti-israelense no Egito passou a ser o principal motivo de manifestações populares, levando milhares de pessoas à porta da embaixada de Israel na capital egípcia e colocando em xeque o futuro do acordo de paz (foto). Na Jordânia, 150 manifestantes exigiram o cancelamento do tratado em vigor desde 1994.


Para completar, a situação atual serve de prévia para os acontecimentos de setembro, quando os palestinos prometem ir às Nações Unidas em busca da criação unilateral de seu Estado. Quanto mais Israel estiver isolado, menos oposição internacional, menos votos contrários na Assembleia-Geral. Tudo pode ser mera coincidência, mas o que são os resultados que importam.

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