terça-feira, 16 de agosto de 2011

Taiwan é o ponto nevrálgico das relações entre China e EUA

Este é um momento um tanto constrangedor para os EUA. O rebaixamento da classificação da dívida dos EUA pela agência Standard & Poor’s não afeta somente as questões domésticas, claro, nem tampouco os assuntos econômicos. A decisão respinga também na política externa do governo Obama. Enquanto em Washington e na bolsa de Nova Iorque o clima é de ansiedade e incerteza, na China há certa porção de felicidade, como se o regime comunista dissesse “chegou a nossa vez”.

Foto: parada militar nas ruas de Taipei, capital de Taiwan

É preciso, no entanto, pontuar que a situação não é de pleno conforto e tranquilidade aos chineses. Isso pelo fato de o país ser o maior credor do Estado americano (possui 1,16 trilhão de dólares em bônus do Tesouro dos EUA e 3,2 trilhões de dólares de reservas estrangeira em moeda americana). Portanto, não há uma dicotomia completa – como sempre, diga-se de passagem – em que quanto pior estiver Washington melhor estará Beijing.

Mas este pode ser o início de uma grande mudança nas relações entre as duas maiores potências planetárias (por mais que Putin e Medvedev insistam em dar asas a seus sonhos juvenis, a Rússia está fora da jogada). E justamente esta semana pode ser o começo de um período divisor de águas.

O vice-presidente dos EUA, Joe Biden, estará na China para se encontrar com seu colega hierárquico Xi Jinping. Além da justificativa oficial sobre o estabelecimento de melhores relações entre os países, há um tanto de ansiedade política. Principalmente porque ninguém sabe ao certo como os chineses irão tratar os americanos a partir de agora. Se tivesse de apostar, depositaria minhas fichas no revanchismo frio e particular da República Popular. Beijing não irá se refestelar por conta dos acontecimentos recentes, mas deve deixar evidente este novo e favorável desequilíbrio de forças.

Ponto polêmico por natureza e que está sempre sobre a mesa quando as duas potências dialogam é a relação que Washington mantém com Taiwan. A ilha dissidente do regime comunista tem nos aliados localizados do outro lado do mundo a maior garantia para segurar o ímpeto chinês de anexação. O problema é que nesta segunda-feira o governo Obama decidiu recuar. Não acatou ao pedido do governo de Taipei de vender 66 caças militares que, nas descrições oficiais, serviriam ao propósito de “defesa contra a China”.

Sabe-se lá como Beijing deve interpretar o gesto, mas a ideia de Obama é a mesma de sempre: apaziguar, passar panos quentes e evitar um desgaste com os chineses. A questão é que ele já fez isso antes e a estratégia se mostrou ineficaz do ponto de vista geopolítico. Já fez isso com os chineses em 2009 e já recuou com os russos. Em todas as oportunidades, as iniciativas foram consideradas demonstrações de fraqueza. E é isso o que deve acontecer novamente.

No entanto, agora há um agravante. No momento em que o presidente luta contra o índice de aprovação popular mais baixo desde a posse (apenas 39%), ele passa pela delicada situação do cobertor curto. Se evita o desgaste com os chineses, entrega de bandeja vasto material de campanha ao Partido Republicano.

Ao negar o pedido de Taiwan, descumpre o Ato de Relações com Taiwan, aprovado pelo Congresso americano e assinado pelo ex-presidente Jimmy Carter em 12 de abril de 1979. O ato é uma obrigação compulsória que determina a venda ao país do que for necessário para sua defesa. Aliada americana e democracia formal com 23 milhões de habitantes, a ilha agora representa uma dor de cabeça para os estrategistas da campanha de reeleição de Obama.

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