Comentei na última semana sobre as questões que unem os distintos campos políticos de Israel sob a máxima de segurança do país – a que estabelece a diretriz de que, regionalmente, nenhum Estado nacional poderia chegar a um estágio de empate no que concerne à capacidade militar. Do lado iraniano, há pouca divergência quanto à questão nuclear. Mesmo a oposição iraniana oficial concorda com o objetivo final de buscar capacidade atômica. Portanto, diante de duas posições tão firmes e opostas na geopolítica do Oriente Médio, o impasse está colocado. E, claro, os EUA sabem disso.
O que é mais curioso nisso tudo é que a posição iraniana jamais foi secreta. Mesmo assim, o Ocidente está em busca de um acordo com o país, o que leva a crer que de fato imagina que a República Islâmica terá algum acesso à tecnologia nuclear. A ideia parece ser minimizar o uso desta capacidade. Ou ao menos estar por perto para direcionar ou inspecionar. James Jeffrey, do Washington Institute For Near Policy, lembra da posição exposta por Seyed Hossein Mousavian, considerado um moderado aliado ao presidente Hassan Rouhani (ele próprio também considerado um moderado, principalmente quando comparado a seu antecessor Mahmoud Ahmadinejad).
Seyed Hossein Mousavian hoje é acadêmico do Programa de Ciência e Segurança Global de Princeton, uma das mais conceituadas universidades americanas. Foi embaixador do Irã na Alemanha, chefe do Comitê de Relações Exteriores do Conselho Nacional de Segurança do Irã e porta-voz do país nas negociações nucleares com a União Europeia (entre 2003 e 2005). Estes são alguns dos muitos cargos de alto escalão que ocupou ao longo de sua vasta carreira política. Em seu livro The Iranian Nuclear Crisis: A Memoir, expõe sua visão sobre as possibilidades de acordo com os americanos. Em sua visão, qualquer entendimento deveria incluir a retirada das tropas dos EUA de Afeganistão, Iraque e Golfo Pérsico, a interrupção do fornecimento de armas aos Estados do Golfo, o enfraquecimento de Israel e um ordenamento de segurança regional subordinado à dominação iraniana.
Ou seja, o Irã espera alcançar a partir do acordo nuclear com o Ocidente nada menos do que a hegemonia no Oriente Médio. Isso não surpreende de nenhuma maneira, até porque esta era a visão de Ahmadinejad. A mesmo visão – desta vez exposta pelos chamados moderados iranianos – mostra a dificuldade que é encontrar termos concretos sobre os quais basear um acordo que de fato seja possível de ser alcançado e legitimado pelos demais atores regionais.
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