Após muita expectativa, Benjamin Netanyahu discursou diante do Congresso americano. Pela terceira vez, é bom lembrar. E, como nas anteriores, houve muito entusiasmo e aplausos por parte dos parlamentares, apesar de toda a polêmica envolvida. Bibi foi aplaudido de pé 26 vezes. Mas, mesmo com este aparente sucesso, as feridas estão abertas. Tampouco há como concluir que o primeiro-ministro tenha sido eficaz em sua tentativa de alertar sobre os perigos de um acordo com o Irã. A administração Obama temia que Netanyahu revelasse detalhes secretos das conversações entre as potências ocidentais e os iranianos. Isso não aconteceu de forma grave, mas o líder israelense expôs uma informação fundamental: um eventual entendimento com os iranianos congelaria a atividade nuclear do país por apenas dez anos. Ou seja, não há possibilidade, pelo menos por ora, de imaginar o desmantelamento total do programa atômico da República Islâmica.
“Este acordo não evitaria que o Irã obtivesse armas nucleares, mas garantiria (este acesso) – a muitas delas (armas). Este é um acordo ruim. Muito ruim”, disse Netanyahu na frase que deve se transformar na principal marca do discurso. A posição do primeiro-ministro – reafirmada neste pronunciamento – é que qualquer acordo que não inclua o encerramento completo do programa nuclear do Irã é ineficaz. Ou seja, esta posição, absolutamente oposta à de Washington, agrava o distanciamento entre os países, muito embora membros do governo Obama – e o próprio presidente do país – afirmem o contrário.
Historicamente, o apoio americano a Israel está acima de questões partidárias. Isso quer dizer que, apesar das diferenças políticas entre os dois principais partidos americanos, a aliança com os israelenses não está na pauta de discussões entre republicanos e democratas. Uma das consequência da visita de Netanyahu parece ser, pelo menos neste momento de grande tensão, um intervalo nesta diretriz. Bibi acertou todos os detalhes de sua ida a Washington com os republicanos, especialmente com o presidente da Câmara dos Deputados dos EUA, John Boehner (leia texto do dia 2 de março), o que causou bastante incômodo na Casa Branca. Até agora, o ápice desta polarização partidária envolvendo Israel foi a decisão de 50 parlamentares do partido Democrata de boicotar o discurso do primeiro-ministro israelense. Caso o Likud, legenda de Bibi, volte a vencer as eleições em Israel no próximo dia 17, ninguém sabe quanto tempo irá levar até que os ânimos se assentem e Israel volte a ser um assunto que está acima das discussões partidárias americanas. Esta é sim a questão mais delicada causada pela decisão de Netanyahu de discursar no Congresso e também o maior risco político que decidiu tomar. Bibi certamente não quer ser conhecido como o responsável por isso.
Por enquanto, a reação oficial do governo Obama é de responder ao discurso dizendo que o líder israelense não ofereceu alternativas políticas viáveis aos EUA para lidar com a questão iraniana. Isso quer dizer que Obama e as demais potências ocidentais não aceitam a posição de Bibi de que a solução seja acabar com o programa nuclear iraniano sem qualquer contrapartida política. A ideia de Washington é também reafirmar que o objetivo desta rodada de negociação com Teerã não é aumentar o escopo do diálogo com o Irã, mas se limitar às questões atômicas. De qualquer maneira, após o discurso de Bibi, está claro que a polêmica entre Israel e EUA deve continuar por mais tempo – a depender também dos resultados eleitorais em Israel no próximo dia 17.
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