Ainda sobre as consequências do discurso de Benjamin Netanyahu, há algumas questões que precisam ser esclarecidas. Houve muito mais interesse pela forma do que pelo conteúdo do que Bibi realmente disse. Sobre o conteúdo, há questões relevantes. Por exemplo, uma das grandes insatisfações do governo israelense diz respeito à natureza do acordo com o Irã. Se agora há um bate-boca aberto entre Jerusalém e Washington é porque as duas administrações têm mesmo interesses distintos sobre o programa nuclear iraniano.
Não apenas o governo Netanyahu mas qualquer coalizão em Israel (mesmo de esquerda) irá defender a posição de que o país só estará seguro a partir de garantias de que Teerã não alcançará capacidade nuclear. A posição americana não é essa. Para os EUA, é preciso proteger seus aliados regionais, mas chegar a um comprometimento com o Irã é um passo importante para restaurar relações normais com uma potência regional inimiga há 36 anos. Por mais que John Kerry e Obama digam o contrário, os avanços no diálogo com a República Islâmica são interpretados como passos a caminho da inserção do país no sistema internacional. Isso quer dizer que, para os americanos, o acordo com Teerã continuará a valer a pena mesmo que ele não seja capaz de desmantelar o programa nuclear de vez. Se simbolizar a abertura da possibilidade de diálogo, ainda melhor.
Para a Casa Branca, “virar a chave” iraniana seria uma grande vitória diplomática que comporia, ao lado da reaproximação com Cuba, o principal legado da administração Obama no campo da política internacional. Reconduzir Cuba e Irã aos trilhos do sistema internacional formal seria restabelecer o imaginário sobre Obama – o mesmo imaginário que deu ao presidente americano o prêmio Nobel da Paz em 2009. Para Israel, no entanto, esta premissa não vale. Como já escrevi muitas vezes por aqui, o principal fio condutor dos aspectos de segurança interna do Estado Judeu é o que determina sua sobrevivência. Na prática, seja qual for o partido à frente do governo israelense, a diretriz internacional do país estabelece que nenhum ator regional pode estar no mesmo nível de capacidade militar do Estado judeu. Certamente o Irã nuclear seria uma ameaça concreta a esta determinação. Ainda mais considerando que se trata de um regime hostil e que nunca desperdiçou oportunidades de repetir o mantra sobre a destruição de Israel.
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