Não há inocentes na política. Repito isso com alguma frequência por aqui porque nunca considero exagerado ter isso em mente ao buscar analisar os eventos. E a visita do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, a Washington é uma dessas ocasiões. É como assistir a um jogo da primeira divisão da grande política internacional. E este é um lugar que não permite amadores. Esta é uma disputa envolvendo EUA, Israel, Rússia, China, Grã-Bretanha, França, Alemanha e Irã. É fundamental ter essas informações claras antes de tentar entender o que está se passando.
Netanyahu foi convidado para discursar diante do Congresso americano. Houve muito atrito e polêmica entre o primeiro-ministro israelense e o governo americano sobre sua ida a Washington. A Casa Branca não queria que Bibi discursasse justamente porque, simultaneamente, busca um acordo sobre o programa nuclear iraniano. Enquanto Bibi discursa em Washington, o secretário de Estado, John Kerry, está em Montreux, na Suíça, tentando obter a maior vitória diplomática do governo Obama no Oriente Médio. Após idas e vindas desde 2007, este é o momento mais favorável aos americanos na complicada relação com os iranianos. Assistir ao discurso de Netanyahu na companhia do ministro das Relações Exteriores do Irã, Mohammad Javad Zarif, é constrangedor e, dependendo das consequências, dramático. Os americanos estão na Suíça se arriscando diplomaticamente porque acreditam nos grandes benefícios práticos e políticos de investir num acordo com Teerã. Kerry negocia também em nome do grupo mais amplo de diálogo com Teerã: Rússia, China, Grã-Bretanha, França e Alemanha. Esses países estabeleceram o próximo mês de junho como o prazo final para o entendimento definitivo sobre o programa nuclear.
Israel também está assumindo riscos. Benjamin Netanyahu está ao lado do presidente da Câmara dos Deputados dos EUA, John Boehner. O republicano é o maior adversário político do presidente Obama. E não é segredo a ninguém que Bibi e Obama mantêm péssimo relacionamento. Em política, apesar da máxima de que todo mundo usa todo mundo, Bibi está aumentando o atrito com o principal aliado do país num momento histórico de profundo isolamento político de Israel. Do lado do Irã, a situação não poderia ser melhor; aguarda os resultados enquanto assiste à pior crise política entre Israel e EUA. Houve boatos inclusive de que membros do governo americano teriam dito em off que os caças do país no Oriente Médio iriam abater os aviões da força aérea de Israel a caminho de um eventual ataque às instalações nucleares iranianas. O boato foi prontamente negado, claro, mas dá ideia da gravidade da situação. Não é demais lembrar também que no próximo dia 17 de março ocorrem as eleições em Israel. A coalizão de Bibi tem como foco a segurança nacional. Mas não deixa de ser uma aposta alta demais entrar em choque com seu principal aliado no mundo.
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