O ótimo artigo de Gregg Carlstrom na Foreign Policy faz uma radiografia da sociedade israelense nesse período eleitoral. O mais relevante diz respeito ao foco da centro-esquerda na campanha. A União Sionista reorienta o debate a partir de um olhar mais próximo às demandas do dia a dia das pessoas comuns. Isso tem dois lados, mas abordo o assunto mais adiante:
“Os salários médios em 2013 permaneceram em cera de 28.800 dólares, mais de 10 mil dólares abaixo da média (nos países) da Organização para a Cooperação Econômica e Desenvolvimento (OECD, em inglês), um bloco de economias desenvolvidas do qual Israel faz parte. No entanto, é muito mais caro viver em Israel do que nos outros países da OECD; o preço dos itens básicos de consumo aqui é 12 por cento maior do que a média (...). Mais de 40% dos israelenses dizem que suas contas bancárias estão ‘regularmente descobertas’”.
A ideia de Isaac Herzog durante a campanha foi mudar o foco do debate. Enquanto o Irã e as demais ameaças à segurança do país acabaram por se tornar parte da agenda do Likud de Netanyahu, Herzog e Tzipi Livni optaram pela manutenção da agenda histórica e internacional dos partidos de esquerda. Isso explica em boa medida o sucesso obtido pela União Sionista, que também incluiu na pauta de discussões o casamento homossexual, energia solar e acesso a financiamento imobiliário (ver o artigo de Gregg Carlstrom).
Sobre as discussões de paz com os palestinos, Herzog é favorável ao retorno à mesa de negociações. O problema neste ponto – e aí volto à deixa do primeiro parágrafo – é que o processo de paz foi tão desgastado durante os últimos anos que mesmo os partidos de esquerda já não consideram que se trata de um tema prioritário. A sociedade em Israel perdeu a confiança na possibilidade real de estabelecimento de um acordo definitivo. O mesmo acontece com a população palestina. E isso é resultado direto da incompetência das lideranças de ambos os lados de construir um caminho viável para o desenvolvimento de confiança mútua. Mesmo que Herzog saia vencedor do processo eleitoral em Israel, será necessário convencer os cidadãos comuns de que é possível retomar o diálogo com a liderança palestina.
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