quarta-feira, 25 de março de 2015

Os riscos geopolíticos regionais que estão em jogo a partir dos acontecimentos no Iêmen

O estado de desmoronamento institucional no Iêmen tem implicações geopolíticas regionais. O primeiro ponto diz respeito às alianças dos grupos que se opõem ao governo do presidente iemenita, Abd-Rabbu Mansour Hadi. Os houthis carregam a bandeira do xiismo e, em função disso, encontraram no Irã seu parceiro prioritário. O problema é que o Irã está em conversações com as potências ocidentais, inclusive com os EUA – que apoiam o presidente do Iêmen, hoje exilado em Áden, no sul do país, uma vez que a capital Sanaa foi tomada pelo movimento Houthi. 

É embaraçoso imaginar que, enquanto os ministros das Relações Exteriores europeus, o ministro do exterior iraniano e o secretário de Estado americano negociam uma saída para o programa nuclear de Teerã, o mesmo regime iraniano apoia um movimento que contribuiu para expulsar britânicos e americanos do Iêmen. Mais do que embaraçoso – adjetivo que vale muito pouco no jogo político internacional – , este tipo de contradição põe em risco as alianças dos EUA na região. 

A maior parte da população islâmica no mundo é da corrente sunita. O mesmo vale para a balança interna nos países de maioria muçulmana. A divisão regional sectária é cada vez mais forte e sua expressão política e militar também. O Irã é o principal articulador do eixo xiita que se contrapõe ao sunita formado pelos Estados do Golfo. Historicamente, esses países estruturam a principal aliança de Washington, notadamente liderada pela Arábia Saudita. O Irã é o maior interessado em alterar este equilíbrio de forças. E o Irã sabe que o momento lhe é favorável. 

Com a aproximação do fim do mandato do presidente Obama, é preciso apresentar bons resultados no cenário internacional. Resolver a questão do programa nuclear iraniano seria considerado uma importante vitória regional da atual administração americana – mantenho, inclusive, que, se isso acontecer, será, ao lado da retomada de relações com Cuba, a principal vitrine internacional de Obama. As negociações com os iranianos ganharam ainda mais força na Casa Branca diante das perspectivas existentes no Oriente Médio neste momento. O processo de paz entre israelenses e palestinos deixou de ser opção viável. Não há tempo suficiente e os atores não se mostram dispostos a retomar negociações no futuro próximo. Para completar, há evidente descompasso entre Israel e EUA. 

Por tudo isso, o Irã passou a ser a aposta de Washington. Mas o Irã não é aliado e, além de tudo, faz oposição ativa aos aliados americanos. Os riscos são evidentes e, desta forma, atuar de forma ativa no Iêmen é ressaltar riscos e contradições tendo muito a perder numa região que tem na fragilidade de alianças uma de suas mais conhecidas características. 

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