Há pouco recebi um email de uma colega jornalista convocando para uma manifestação em frente ao consulado da Suíça no Rio de Janeiro. A ideia é demonstrar o quanto nós, brasileiros, deploramos o ataque neonazista sofrido pela advogada Paula Oliveira.
Não houve qualquer resposta à convocação da colega. Cada um tem sua vida, trabalho e preocupações. Mas não me lembro de nenhum episódio recente que merecesse uma resposta proporcional à barbaridade cometida contra a brasileira. Até nosso pacato povo precisa se mobilizar de vez
Paula não foi apenas vítima de uma desumanidade atroz, como também teve seus dois filhos assassinados antes mesmo de nascerem.
Tragicamente, a violência sofrida por ela ocorre num momento em que o Papa reabilita membros da Igreja que negam o Holocausto. Não faz muito tempo, o presidente iraniano promoveu um concurso de caricaturas para caçoar do Holocausto.
O fato é que ataques neonazistas continuam a acontecer. No caso da Suíça, especificamente, a participação política do SVP – o partido nacionalista cujas iniciais foram marcadas à estilete no corpo de Paula – vem crescendo nos últimos anos. Dentre os objetivos da legenda, estão a oposição à presença de imigrantes e refugiados e também a proposta de isolar o país. O SVP defende, por exemplo, a exclusão da Suíça da ONU e da União Europeia.
Entretanto, o extremismo na Europa não é exclusividade Suíça. Pelo contrário. Nos últimos anos, atos neonazistas têm aumentado no continente. Mais do que simplesmente ser palco de ataques a imigrantes, a crise financeira fortalece opiniões que andavam em voga nos anos 1930 e foram fundamentais para a concretização do Holocausto.
Pesquisa realizada pela Liga Antidifamação, dos Estados Unidos, mostra que parte importante da população europeia partilha de uma mentira que se tornou verdade no período anterior à ascensão do nazismo. O estudo – realizado em sete países do continente entre 1 de dezembro de 2008 e 13 de janeiro de 2009 – mostra que 31% dos entrevistados acreditam que os judeus são culpados pela crise financeira global.
Diante das incertezas econômicas, os preconceitos se reinventam para continuar a existir. E a culpa é socializada entre todas as minorias que não compõem a imaginária e inexistente pureza europeia.
Histórico suíço
A relação entre a Suíça e o nazismo é mais estreita do que muitos podem pensar. Um estudo sobre o papel do país durante o nazismo composto por 26 volumes de documentos mostra que as relações das autoridades suíças com a Alemanha ajudaram a prolongar a guerra.
Mais ainda, a pesquisa conclui que cerca de 110 mil refugiados judeus que tentaram entrar no país tiveram acesso negado, mesmo com o conhecimento por parte do governo suiço de que seriam enviados para campos de concentração.
No campo financeiro, os bancos suíços confiscaram o dinheiro de 500 mil judeus que, antes da guerra, tinham conta nas instituições. Posteriormente, os bancos se recusaram a devolver a quantia aos parentes dos mortos sob a alegação de que eles não possuíam as certidões de óbito dos campos nazistas.
7 comentários:
Bom texto.
Jean Ziegler escreveu "A Suiça Lava Mais Branco", todavia, os últimos acontecimentos estão mostrando que o vermelho do ódio está saindo da bandeira e manchando a "neutralidade" desse país.
Acho que no período da mais recente invasão de Israel a Gaza eu vi mais brasileiros chorando pelos palestinos do que pelos males que assolam os próprios brasileiros.
henry, adorei o texto. é realmente chocante esse tipo de violência e intolerancia. se tiver o protesto mesmo, me chama q eu vou.
beijo
Henry, Bom texto!!
Esse assunto é revoltante, são verdadeiros animais. Agora, como pode, neonazistas na Suíça ainda têm participação na política. O mais absurdo de tudo, é as autoridades ainda estarem questionando a veracidade do ocorrido.
A historia se repete...
Se for provado que esta agressão foi realmente feita pela própria vítima, simplesmente desisto de entender até onde vai a insanidade humana...
Mesmo que fosse confirmado a auto mutilaçao da moça, ha neste mar de estórias , uma verdade despertada e que poucos entao prestavam atenção: o partido do povo suiço, ultra direita Suiça obteve 20 % dos votos nas ultimas eleiçoes e não por menos com conclames para um ultra nacionalismo em que deixa de fora imigrantes, e seus descendentes.
Isto não é inventado, é fato. os cartazes em que corvos negros bicam o mapa suiço foi um dos cartazes mais divulgados do referido partido.
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