Ontem comentei sobre as muitas conquistas de Obama desde que assumiu a presidência, há quase dois anos. Mesmo num espaço de tempo curtíssimo e diante de muitas adversidades, os progressos foram significativos. A massa de votos nos republicanos que mudou a balança de poder na Câmara e no Senado tem mais a ver com a percepção de que o governo não se esforça o bastante. Aliás, o próprio Obama admitiu isso em pronunciamento após a divulgação de boa parte dos resultados.
A estratégia republicana – e do Tea Party, especificamente – foi perfeita. Ela acertou em cheio onde os democratas mais falharam. Convencer a população de que tudo vai mal – mesmo quando isso não é verdade – não costuma ser uma das tarefas mais difíceis (antes que me questionem, a eleição brasileira é um caso distinto, até porque a vida das pessoas mais pobres melhorou substancialmente). O discurso adotado nos EUA sobre tamanho de governo e da carga tributária toca no ponto fundamental: a distinta concepção sobre o papel do Estado. E cada vez mais as posições entre os dois principais partidos americanos diante deste assunto parecem irreconciliáveis.
A vitória eleitoral republicana segue uma equação que se fecha principalmente porque consegue sensibilizar a massa de cidadãos: se há impostos demais é porque o Estado gasta demais; o Estado gasta demais porque ele se preocupa com áreas onde não deveria se meter (por exemplo, a reforma da saúde, uma das principais plataformas políticas de Obama). Dá para entender como este discurso é sedutor para trabalhadores endividados e que ainda se debatem com contas e todo o prejuízo financeiro e material causado pela crise econômica?
Pois é. Não se pode questionar a capacidade republicana de transmitir claramente seu principal ponto de atrito com os democratas. A vitória nas urnas deveu-se, em boa parte, à repetição contínua desta mensagem. Mas não se pode deixar de notar que a conquista apresenta outra face: os candidatos republicanos obtiveram sucesso mais pela decepção com a suposta incapacidade de Obama de realizar as mudanças anunciadas em sua campanha do que por qualquer fidelidade ideológica com o Partido Republicano. A segunda parte da estratégia republicana será apresentar propostas capazes de fidelizar esses eleitores. Sem dúvida, este é o passo mais difícil.
"Os americanos temem que o governo esteja gastando seu dinheiro, da mesma maneira que os europeus se mostram descontentes com a questão da imigração", diz Barbara Martinez, editora do Global Post.
O grande desafio republicano será conseguir mostrar que sabe resolver todos esses problemas. Ou seja, apresentar soluções viáveis e econômicas para reduzir os gastos públicos.
É curioso notar que uma das alternativas oferecidas – diga-se de passagem, durante toda a campanha – é derrubar a reforma da saúde que estendeu a cobertura nacional para 30 milhões de cidadãos. E aí fica a questão: será que esta leva de redução orçamentária também irá atingir a área da Defesa? Acho pouco provável. Ou seja, os interesses da população americana vão ficar em segundo plano, enquanto os gastos militares estarão intocados.
Nesta nova balança de forças nos EUA, a área de política externa pode ser alvo de discussões ideológicas mais firmes, uma vez que a polarização entre os dois partidos tende a aumentar. Os democratas poderão se utilizar dela para questionar as prioridades dos republicanos: as guerras travadas no Oriente Médio ou a acesso à cobertura de saúde mesmo aos americanos mais necessitados? Esta é uma oportunidade para que Partido Democrata encontre um novo caminho de enviar uma mensagem mais clara aos eleitores que votarão em 2012.
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