A derrota do Partido Democrata nas eleições realizadas nesta terça-feira nos EUA aponta uma perspectiva complicada para o presidente Obama. A Câmara dos Representantes passa para controle republicano. Haverá também redução da presença democrata no Senado. Há, no entanto, três importantes vitórias que a Casa Branca pode comemorar: a eleição de Harry Reid, que disputava a vaga pelo estado de Nevada com Sharron Angle, uma das estrelas do Tea Party; a retomada do governo da Califónia, com a escolha de Jerry Brown para o cargo e a reeleição da senadora Barbara Boxer.
Se a derrota ensina muitas lições, há alguns sinais que precisam ser interpretados pelos democratas. O primeiro deles é a vasta incapacidade de comunicar os resultados obtidos pelo governo nesses dois anos. Já escrevi isso antes, mas nunca é demais lembrar que Obama herdou a maior potência do planeta afundada na principal crise econômica desde os anos 1930. Mesmo assim, Washington conseguiu aprovar a ampla reforma da saúde – que passou a incluir 30 milhões de americanos no sistema de cobertura médica.
Os dados são muito importantes, mas o governo não conseguiu impactar os eleitores. Por exemplo, duas das principais acusações dos candidatos republicanos continuam a repercutir como verdade, muito embora não sejam. Plataforma de campanha da oposição, a falta de emprego e a alta de impostos foram fatores fundamentais que contribuíram decisivamente nos resultados apresentados hoje. Como informa o jornalista Michael Cohen, em artigo publicado no AOL News, dois em cada três cidadãos – segundo pesquisa Bloomberg – acreditam que os impostos subiram. Mas, por incrível que pareça, a diminuição da carga tributária atinge atualmente cerca de 95% da população.
Outro pilar de campanha republicana é o aumento do desemprego. De fato, a taxa de 9,6% ainda é alta – muito embora bem menor que em boa parte dos países europeus, por exemplo. Mas, desde janeiro de 2009, a administração Obama conseguiu criar três milhões de postos de trabalho.
Os resultados das eleições foram diretamente influenciados pelo erro estratégico de não comunicar com clareza as grandes vitórias do governo. Outro motivo que explica a mudança de poder nos EUA é justamente o que levou Obama a se eleger. Havia uma enorme expectativa quanto a sua capacidade de interferir positiva e rapidamente na realidade. Não foi isso o que aconteceu, principalmente por conta da urgência que a Casa Branca encontrou para apagar os muitos "incêndios" políticos e econômicos neste curtíssimo espaço de tempo.
Segundo fontes do partido entrevistadas pelo Wall Street Journal, há evidências de uma profunda divisão interna. As maiores queixas giram em torno da falta de empenho pessoal do presidente para eleger os candidatos da legenda, além do erro estratégico no período anterior às eleições, quando o partido passou a acusar os republicanos de receberem ajuda financeira "externa" durante a campanha - de acordo com os entrevistados, esta é uma questão distante das muitas demandas reais dos eleitores.
Se Obama está em falta com o partido, a mesma acusação não pode ser aplicada ao ex-presidente Bill Clinton, que trabalhou bastante durante a campanha. Não custa lembrar que Clinton é o maior adversário político de Obama. Seu empenho não é por acaso, mas suas muitas habilidades já detectaram que a reeleição de Obama em 2012 está longe de garantida. E aí, segundo este raciocínio, nada melhor do que substituir uma esperança por outra; sua mulher, Hillary.
Um comentário:
Espero que o Bill Clinton tenha mais bom senso do que isso. Os presidentes incumbentes que são desafiados por outros pré-candidatos de seus partidos em eleições prévias levam muito tempo para se preparar para a campanha presidencial e geralmente saem perdendo. Aconteceu com o George Bush, Sr. em 1992 quando teve de disputar prévias com o ultra-reacionário anti-semita Pat Buchanan, com Jimmy Carter em 1980 quando teve uma acirradíssima disputa nas prévias dos Democrats com o desafiante Ted Kennedy (menina-dos-olhos da esquerda do partido)que só foi resolvido no próprio dia do Democratic National Convention por um controvertido voto de Minerva. Esse é o real risco de Obama perder em 2012. Um plebiscito o governo Obama pode perder, mas em 2012 será dois plebiscitos: um quanto a seu governo contra outro quanto ao governo de Bush, Jr. Talvez até lá os resultados do Pacote Obama já estejam mais evidentes e os problemas de relações públicas dos Democrats já tenham melhorado. Se as prévias do Republican Party forem, nas imortais palavras de Tancredo Neves, uma "briga de foice no escuro" e o Obama for candidato automático dos Democrats, ele já larga com vantagem nessa corrida. O fogo amigo pode ser fatal. O Lula só superou o ódio universal da mídia descascando todos concorrentes possíveis, e assim elegeu um poste. O Obama, que tá mais pra Lula do que pra Dilma, tem que começar a descascar seus pepinos com quatro anos de antecedência, como fez o Lula.
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