A reunião do G-20 não serviu para resolver a crise mundial. Aliás, o encontro não conseguiu sequer chegar perto disso. As discussões realmente importantes ficaram de fora das decisões finais da cúpula. Nem a China foi pressionada o bastante a ponto de ser "comovida" a flexibilizar o yuan, nem os EUA foram minimamente convencidos a interromper o fluxo de dólares que tem levado a moeda americana a se desvalorizar, prejudicando as exportações alheias – inclusive do Brasil.
Por conta desta omissão, os países têm agido isoladamente. Sem qualquer dúvida, é a Europa que atravessa o pior momento. Os líderes da zona do euro têm deixado de lado qualquer traço de unidade comunitária. Todos se atacam mutuamente.
A Alemanha, como maior economia regional, está na posição de cobrar austeridade dos vizinhos europeus. A mais recente investida é contra a Grécia, que anunciou nesta semana que, foi mal, não vai dar para reduzir o déficit governamental a 8,1% de seu Produto Interno Bruto (PIB). A meta foi estabelecida depois que Atenas recebeu 110 bilhões de euros de resgate dos países da zona do euro e do Fundo Monetário Internacional (FMI). Os alemães estão especialmente incomodados porque entraram com 22 bilhões de euros desta quantia total.
Outra briga interna no continente que já foi o modelo de boa vida internacional é protagonizada pela troca de acusações entre Portugal e Irlanda.
"Se a situação está pior na Irlanda, por exemplo, ela vai contagiar outras economias da zona do euro e particularmente as que estão sob forte escrutínio dos mercados, como Portugal", disse Fernando Teixeira dos Santos, ministro das finanças português.
Não custa lembrar que, apesar deste tipo de declaração, Lisboa não tem motivos para se orgulhar. Irlandeses e portugueses estão juntos no mesmo barco furado. Portugal apresenta déficit de 9% do PIB, quando o limite para a zona do euro é de 3%. A Irlanda, por sua vez, é a maior dor de cabeça do momento. É o que a Grécia foi no ano passado. Seus bancos já perderam cerca de 80 bilhões de dólares. Ou o equivalente a 50% da economia do país, como destaca o New York Times.
Enquanto a situação vai de mal a pior na Europa, há comentaristas que conseguem enxergar nisso uma lição de algum ente divino. Ou, pior, a "evolução" em curso no continente que, finalmente, irá reduzir a presença do Estado e, por consequência, os benefícios que marcaram o imaginário mundial construído sobre a vida que seus cidadãos levaram durante boa parte do século 20. A realidade a partir de agora será bem diferente, como se sabe.
"Há algo no ar. Quase parece que pelo menos alguns (países) europeus têm aprendido lições da recessão recente. Eles perceberam – ou estão a ponto de perceber – que seus setores estatais são grandes demais. Eles estão próximos de descobrir que seus gastos públicos, que pareciam justificáveis nos bons tempos econômicos, precisam ser cortados. A classe média até sabe que seus subsídios – em hipotecas, ajudas de custo a universitários ou até tratamentos de saúde – não podem durar", escreve Anne Applebaum, colunista do Washington Post.
A derrubada do modelo de bem-estar social parece um fato consumado. Pelo menos é assim que seus detratores preferem encarar este momento.
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